Carnaval de Oruro | Cultura Espanhola
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Carnaval de Oruro

Por acaso tem algum amante de carnaval por aí? Sabemos que esta é a festa popular mais importante do Brasil e a maior responsável pela projeção do país no exterior. Contudo, de maneira nenhuma nós somos os únicos a celebrar esta data. A bem da verdade, Espanha e América Latina também são conhecidos por organizar grandes eventos para este período do ano.

Assim sendo, que tal darmos uma passadinha em um dos nossos vizinhos e conhecermos o carnaval de Oruro na Bolívia? Logo de cara podemos garantir que é quase como se estivéssemos lhe apresentando um festival completamente novo, já que o sincretismo entre crenças católicas e indígenas o tornam único.

Este reconhecimento já foi validado também pela UNESCO que em 2001 o classificou como “Obra‑Prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade” e “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade” em 2008.

A cada edição que passa, mais e mais turistas se dirigem a esta cidade boliviana que chega a quadruplicar durante as festividades. Quer descobrir o que faz tantos bolivianos e estrangeiros se sentirem motivados a participar desta festa? Então siga com a gente!

 

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Oruro: onde nasce a luz

Ao contrário do que ocorre com muitas festas de carnaval cuja base histórica provém da preparação para a Páscoa cristã e que posteriormente incorporou outros elementos culturais locais, as primeiras raízes das celebrações em Oruro são, na realidade, pré-hispânicas.

Uru Uru, futuramente transformada em “Oruro”, significa “onde nasce a luz”. O nome faz jus às características geográficas da cidade já que ela se encontra a quase 4.000 metros acima do nível do mar, uma das mais altas do mundo. Em termos populacionais, é a quinta maior da Bolívia com aproximadamente 260 mil habitantes e se destaca também por ser um polo minerador importante para o país. De fato, Oruro é comumente conhecida tanto por ser a capital mineira da Bolívia quanto a capital do folclore boliviano.

 

Entre deuses e demônios

No passado, antes da colonização espanhola e até mesmo da dominação durante o Império Inca, Oruro era um local sagrado para o povo uru, sendo Huari (também chamado de Wari) um dos deuses mais adorados.

Reverenciado como o criador que dá vida a todos, ele era associado à agricultura e saúde. Porém, também tinha um lado sombrio se não recebesse as devidas homenagens, podendo ser associado igualmente às doenças, ao fogo e ao mundo subterrâneo.

Com a vinda de outros povos como os aimarás, incas e espanhóis, as crenças iniciais dos urus sofreram uma mudança drástica e Huari passou a ser visto apenas em seu espectro negativo. Assim, ele adquiriu atributos próprios do que hoje entendemos como um “demônio”.

Apesar disto, Huari, o qual por muitas vezes é chamado de el Tío de la Mina ou simplesmente el Tío, continua recebendo tributos principalmente dos mineiros lhe pedem proteção ao se aventurarem nas profundezas da terra e que seja permitido a eles retirarem de lá as riquezas minerais para seu sustento.

 

A lenda das quatro pragas

Outra história que representa um dos pilares para o carnaval de Oruro é a Lenda das Quatro Pragas.

De acordo com a sabedoria popular, Huari, enfurecido com o povo Uru, enviou flagelos para exterminar a cidade e sua população. No entanto, uma ñusta (princesa virgem segundo a tradição inca) com poderes milagrosos defendeu e derrotou as quatro pragas lançadas por Huari: um exército de formigas, uma serpente, um sapo e um lagarto gigantes.

O resultado deste embate pode ser visto até hoje em Oruro. A noroeste da cidade, as formigas se transformaram nas areias que compõem Los Arenales de Cochiraya. No norte, o sapo gigante foi transformado em pedra, cuja estátua se encontra na Plazuela del Sapo. A leste, o lagarto foi cortado em três partes e se transfigurou nas montanhas de Cala Cala. Já a grande serpente teve sua cabeça cortada e seu corpo virou as colinas que se distribuem a sul da cidade.

 

Virgem milagrosa

Com o passar do tempo e o aumento do sincretismo religioso, esta ñusta poderosa se associou à imagem da Virgen de la Candelaria del Socavón (também chamada de Virgen del Socavón, virgencita ou mamita), uma manifestação mariana venerada em Oruro e trazida pelos espanhóis.

Aliás, também há uma fusão interessante entre ela e a figura de Pachamama, representação inca da Mãe Terra e mais um exemplo que retrata bem a mistura entre as diferentes crenças religiosas na Bolívia.

No caso da Virgen del Socavón, outras lendas circundam a respeito de sua origem na cidade, além do conto das pragas explicado acima. Seja qual for a versão adotada, fato é que os orureños demonstram grande devoção à virgem principalmente os mineiros, os quais ela é patrona.

Sua festa é celebrada anualmente no sábado de carnaval, sendo justamente o maior de todos os eventos do período.

 

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Convites e challas

Enfim, chegamos aos preparativos da esperada festa. Alguns dias antes do seu início oficial, ocorre uma série de eventos conhecidos como “convites”. Estes encontros são tanto ensaios dos conjuntos que se apresentarão nos dias subsequentes quanto cerimônias no santuário da Virgem, momento esse em que os participantes pedem permissão à santa para que a festa aconteça.

Além dos convites, o período prévio também é marcado pelas challas. Este é outro ritual derivado dos tempos pré-colombianos e consiste em fazer oferendas a uma entidade. Entre as diversas possibilidades de tributo são comuns as pétalas de flores, flores de coca, serpentinas além de alguma bebida alcoólica.

A challa mais emblemática ocorre na sexta-feira imediatamente anterior ao sábado de carnaval quando se realiza o convite ao Tío de la Mina e então os mineiros de Oruro fazem uma challa nas minas de San Jose em sinal de respeito bem como buscando proteção dos perigos subterrâneos.

Além dela, challas também ocorrem em outros pontos da cidade como na estátua do Sapo (da lenda das quatro pragas) às Quartas-feiras de Cinzas.

 

A peregrinação de Carnaval

O sábado de carnaval é definitivamente a cereja do bolo das festividades, pois é quando transcorre a peregrinação dos conjuntos folclóricos.

Neste dia, mais de 50 grupos desfilam pelas ruas de Oruro performando uma variedade de danças folclóricas originárias de todos os cantos da Bolívia. Durante um percurso de 4 km, aproximadamente 35 mil participantes, entre bailarinos e músicos, dançam através dos quarteirões até chegar ao seu destino final, o Santuario de la Virgen del Socavón.

Ao chegar lá, os integrantes dos conjuntos retiram suas máscaras e realizam uma última caminhada interna dentro da igreja. De joelhos, eles prestam homenagens à Virgem, agradecem e fazem suas preces.

Dentre as encenações da peregrinação, a diablada é com certeza a mais emblemática. Representando a luta do bem contra o mal, ela traz como um dos seus personagens São Miguel Arcanjo que guia os diabos (simbolizados na figura do Huari/Tío) até a igreja de Socavón.

Além dela, outras danças famosas são La Morenada que relembra o sofrimento dos africanos submetidos à escravidão e os Tinkus que narram o choque resultante do encontro de dois elementos vindos de direções opostas (uma referência às antigas lutas ritualísticas entre os indígenas dos grupos Alasaya e Majasaya).

 

Informações aos viajantes

Caso tenha se interessado pela festividade, aí vão algumas dicas:

 

  • Este ano o carnaval de Oruro será realizado de 11 a 21 de fevereiro
  • As acomodações na cidade tendem a atingir sua capacidade máxima nesta época. Portanto, reserve um hotel/pousada com antecedência
  • O trajeto até a cidade pode ser feito de ônibus que parte de várias cidades bolivianas como La Paz, Cochabamba e Potosí ou até mesmo da cidade chilena de Iquique
  • Também há a possibilidade de chegar até Oruro de trem, partindo do extraordinário Salar de Uyuni
  • Como Oruro está no altiplano, suas temperaturas são geralmente frias e giram em torno de 4°C a 18°C nesta época. Por isso, recomenda-se levar um casaco quente e que seja impermeável à chuva

 

Ficou com vontade de ir? O que acha de dar uma espiadinha nessa festa tão singular? Reservamos abaixo um trecho do evento para dar uma palinha de sua grandiosidade:

 


O Carnaval de Oruro é riquíssimo em história, tradição e simbolismo. Definitivamente, não há uma festa de carnaval em todo o planeta que seja igual a esta. O que acha de conhecê-la pessoalmente?

 

Esperamos que tenha gostado do post de hoje. Nos vemos em um próximo!

¡Saludos carnavalescos!

 

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Esther Fuentes
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