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Os hispanofalantes: Nicarágua

O post desta semana sobre a série dos hispanofalantes volta para a América Central e desta vez vamos falar sobre outro país que, apesar de sabermos por nome, ainda é muito desconhecido para nós brasileiros. Assim, hoje vamos explorar mais as belezas naturais e culturais da Nicarágua, bem como entender um pouco sobre sua intensa história.

 

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Informações gerais

Os hispanofalantes: Nicarágua

Ubu Komarova via Unsplash

Nome oficial: República da Nicarágua

Capital: Manágua

Área: 130.370 km²

Tipo de governo: república presidencialista

População: 6.676.948 habitantes

Maiores cidades: 1) Manágua; 2) León; 3) Masaya; 4) Matagalpa; 5) Tipitapa

PIB total: $ 51,088 bilhões (estimativa 2023)

PIB per capita: $ 7.300 (estimativa 2023)

Principais produtos agrícolas: 1) cana-de-açúcar; 2) leite; 3) arroz; 4) óleo de palma; 5) milho

Principais indústrias: 1) alimentos industrializados; 2) químicos; 3) maquinário e produtos de metal; 4) têxtil; 5) mineração

Moeda: córdoba nicaraguense

Documentos de entrada para turistas brasileiros: para estadias menores que 90 dias não é necessário a solicitação de vistos. Porém, os cidadãos brasileiros viajando a turismo para a Nicarágua ainda devem apresentar os seguintes documentos:

  • Passaporte válido com no mínimo 6 meses e pelo menos uma folha em branco
  • Certificado Internacional de Vacinação contra a febre amarela
  • Comprovação de fundos suficientes para todo o período de estadia
  • Passagens de ida e volta
  • Comprovante de hospedagem
  • Taxa de entrada: ao adentrar na Nicarágua o turista deve pagar uma taxa de 10 dólares estadunidenses (tenha em mente que este valor pode sofrer alterações e é recomendável ter o dinheiro em espécie)
  • Caso entre no país por terra, é necessário preencher com pelo menos 7 dias de antecedência o formulário online Migración y Extranjería (mais informações no site oficial do Ministério das Relações Exteriores do Brasil)

 

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Breve história do país

A história da Nicarágua é marcada por grandes reviravoltas, cujas tensões podem ser notadas até os dias atuais. Por outro lado, é fato que o país guarda dentro de si uma rica cultura, cujas raízes nasceram muito antes da chegada dos espanhóis.

Durante o período pré-colombiano o território hoje chamado de Nicarágua foi ocupado por diversas etnias indígenas como os sutiavas, chorotegas e nahuas que desde aquele período já mantinham relações comerciais com seus vizinhos. Com a chegada de Cristóvão Colombo em 1502 os europeus ficaram a par de sua existência, embora a área só foi formalmente incorporada aos domínios espanhóis a partir de 1524. Assim, a região se tornou parte do Vice-Reino da Nova Espanha, pertencendo a ele até 1821 quando declarou sua independência. Porém, antes de se tornar o país que conhecemos hoje, a Nicarágua ainda fez parte por um breve período do Primeiro Império Mexicano (1821-1823) e depois integrou a República Federal da América Central (1823-1839) até que se separou dela em 1838.

Os hispanofalantes: Nicarágua

Hermes Rivera via Unsplash

Mesmo após sua independência, a Nicarágua ainda passou por intensos períodos de turbulência. O país foi capaz de se estruturar durante a segunda metade do século XIX, período este conhecido como Treinta Años. Contudo, em 1893 teve início a Revolução Liberal que colocou José Santos Zelaya no poder durante 16 anos. Após ser derrotado em 1909, Zelaya foi substituído na presidência por Adolfo Díaz, o qual contava com o apoio dos Estados Unidos. O processo eleitoral seguiu uma certa normalidade até que Anastasio Somoza García ganhou as eleições presidenciais em 1937 e instaurou uma cruel ditadura que se estendeu para seus filhos (Luis Somoza Debayle e Tachito Somoza Debayle), a qual permaneceu ativa até o final da década de 1970.

Em 1978, por conta de um assassinato político cujo mando foi atribuído ao regime Somoza, irrompeu no país a chamada Revolução Sandinista que colocava de um lado as forças governistas e de outro o grupo guerrilheiro “Frente Sandinista de Liberación Nacional” ou simplesmente FSLN (criado na década de 1960 e cujo nome fora uma homenagem ao líder guerrilheiro Augusto Sandino). Em 1979, Tachito Somoza foge da Nicarágua e os sandinistas conquistam o controle do Estado. No entanto, a violência no país não cessa e, pelo contrário, se transforma em uma sangrenta guerra civil opondo os sandinistas e os contra nicaraguenses (estes últimos apoiados pelos EUA), a qual resulta em milhares de mortos. Um acordo para acabar com tal conflito só é alcançado em 1989.

Os anos 1990 e começo dos 2000 seguiram uma certa tranquilidade dentro da ordem democrática até que em 2006 Daniel Ortega ganhou as eleições para a presidência do país. Pertencente à FSLN e um dos principais líderes sandinistas, Ortega já tinha governado a Nicarágua na década de 1980, embora fora derrotado em 1996 e 2001. Ao assumir novamente o cargo em 2007, realizou diversos atos vistos com maus olhos pela comunidade internacional como o fim de limites para reeleições, denúncias de fraudes eleitorais, violações de direitos humanos e truculência contra manifestantes e dissidentes políticos.

Em uma das crises mais recentes, o governo de Ortega expulsou uma série de embaixadores, inclusive do Brasil, gesto este que foi replicado por Brasília. Tal movimentação adiciona mais um grau de tensão não somente nas relações Brasil-Nicarágua, mas também deste país com o continente americano como um todo.

 

Curiosidade 1: terra dos vulcões

Saindo do terreno das tensões sociopolíticas, vamos conhecer mais sobre as características naturais e culturais da Nicarágua que com certeza são estonteantes.

Um dos elementos mais significativos da geografia nicaraguense é sua enorme atividade sísmica e sua localização no Círculo de Fogo do Pacífico, fazendo com que terremotos e vulcões sejam comuns na região. Curiosamente, apesar de a Nicarágua não ser o país das Américas com mais vulcões, a relação dos nicaraguenses com estas estruturas geológicas é muito próxima, atraindo também intrépidos aventureiros de outras partes do planeta.

Os hispanofalantes: Nicarágua

roberto zuniga via Unsplash

De acordo com alguns estudiosos, isto se deve à forma como os povos originários da região viam os vulcões. Segundo sua concepção, eles não os consideravam como seres malignos, mas sim espaços sagrados que ligavam o submundo à terra e ao céu, trazendo abundância para seu entorno (vale mencionar que o solo vulcânico é considerado um dos mais férteis que existem). Apesar de os colonizadores espanhóis terem uma visão bem diferente e mais aterrorizante deste fenômeno, acredita-se que parte desta ideia permaneceu na cultura nicaraguense a ponto de que seus habitantes encarassem com normalidade sua vida junto aos vulcões.

De fato, há uma série de passeios turísticos que podem ser feitos para apreciar estas magníficas estruturas desde acampar aos pés do vulcão Telica, visitar as ruínas de León Viejo (conhecido como “A Pompéia de Nicarágua”) ou chegar até o topo do Masaya e ver de perto o magma dançando em seu interior. E você, teria coragem?

 

Curiosidade 2: El Güegüense

Dentro do aspecto cultural, talvez uma das representações mais distintas do país seja El Güegüense, um tipo de dança/teatro satírico popular proveniente da cidade de Diriamba (há mais ou menos 40km da capital Manágua) e que desde 2008 faz parte da lista de Patrimônios Culturais Imateriais da Humanidade organizada pela UNESCO.

Os hispanofalantes: Nicarágua

Pasionyanhelo via Wikimedia Commons

Sendo concebido como uma expressão artística de protesto contra o regime colonial, acredita-se que El Güegüense remonte sua existência desde o século XVIII. Em uma mistura de elementos indígenas com espanhóis, a peça conta a história das primeiras interações entre os povos originários nicaraguenses e os colonizadores. O Güegüense, figura pré-colombiana muito respeitada entre os indígenas, é o personagem principal da obra que busca se esquivar das ações dos espanhóis por meio de uma falsa submissão. Aliás existe uma expressão popular que significa “pôr a cara de Güegüense” justamente para se referir a situações em que a pessoa aparenta obedecer alguma autoridade, mas na realidade está cuidadosamente se preparando para derrubá-la.

As apresentações normalmente contam com oito personagens mascarados, juntamente com dançarinos e uma banda musical. No vídeo abaixo, é possível conferir um pouco desta arte tipicamente nicaraguense e como El Güegüense é motivo de grande orgulho para seus habitantes:

 

 

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Personalidade ilustre: Rubén Darío

Félix Rubén García Sarmiento, artisticamente conhecido como Rubén Darío, foi um poeta, escritor, diplomata e jornalista nicaraguense. É até hoje aclamado como o pai do movimento Modernista na literatura hispânica, feito esse que lhe rendeu a alcunha de “O Príncipe das Letras Castelhanas”.

Nascido em 18 de janeiro de 1867 na pequena cidade de Metapa (atual Ciudad Darío em sua homenagem), Rubén Darío já tinha mostrado sua aptidão pela literatura desde cedo. De fato, com apenas 13 anos seus poemas já tinham sido publicados em jornais locais e justamente por isso ele fora chamado naquela época de o “poeta menino”.

Com pouco mais de 20 anos, Darío se mudou para o Chile e foi neste momento que sua carreira literária realmente deslanchou, a começar pela publicação de “Azul…” (1888), considerado o pontapé inicial do Modernismo na literatura hispânica e que fez Darío se tornar uma referência tanto na América Latina quanto na Europa. Para além desta obra, outros trabalhos que se destacam são “Prosas profanas” (1896), “Cantos de Vida y Esperanza” (1905) e “El Canto Errante” (1907). Para além de sua trajetória literária, ele também atuou como jornalista e diplomata.

Rubén Darío morreu na cidade nicaraguense de León a 7 de janeiro de 1916, vítima de uma cirrose hepática. Mesmo anos após a sua morte, Darío permanece como um dos maiores escritores hispânicos que já existiram.

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Esperamos que tenha gostado do post de hoje. Nos vemos na próxima semana!

 

¡Hasta luego!

Esther Fuentes
Esther Fuentes