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Os hispanofalantes: Panamá

Para a série dos hispanofalantes deste mês, vamos continuar na América Central e conhecer um pouco sobre o Panamá. Reconhecido mundialmente por causa do seu famoso canal que liga os Oceanos Atlântico e Pacífico, o país, na realidade, sempre foi uma rota de passagem importante para o continente americano. Justamente por isso, seu território sempre esteve no mapa das grandes trocas comerciais e culturais entre os mais diferentes povos e culturas.

Assim, hoje é dia de explorarmos mais sobre este país que até pode ser pequeno em extensão, mas é enorme quando se trata em importância para o comércio mundial.

 

Sugestão: Os hispanofalantes: Nicarágua

 

Informações gerais

Os hispanofalantes: Panamá

Ahmed Rangel via Unsplash

Nome oficial: República do Panamá

Capital: Cidade do Panamá

Área: 75.420 km²

Tipo de governo: república presidencialista

População: 4.470.241 habitantes

Maiores cidades: 1) Cidade do Panamá; 2) San Miguelito; 3) David; 4) Colón; 5) La Chorrera

PIB total: $ 159,867 bilhões (estimativa 2023)

PIB per capita: $ 35.800 (estimativa 2023)

Principais produtos agrícolas: 1) cana de açúcar; 2) bananas; 3) arroz; 4) laranjas; 5) óleo de palma

Principais indústrias: 1) construção civil; 2) agroindústria; 3) produtos do petróleo; 4) açucareira; 5) produtos químicos

Moeda: balboa panamenha e dólar estadunidense

Documentos de entrada para turistas brasileiros: para estadias menores que 90 dias, não é necessário a solicitação de visto. Porém, os turistas brasileiros ainda precisam apresentar:

  • Passaporte com no mínimo 6 meses de validade e uma folha em branco
  • Passagens aéreas de ida e volta
  • Comprovação de renda suficiente durante a estadia, sendo que o mínimo solicitado é US$ 500,00 (dólares estadunidenses)
  • Comprovante de hospedagem
  • Certificado Internacional de Vacinação contra a febre amarela (deve ter sido tomada pelo menos 10 dias antes da entrada ao país)

 

Leia também: Os hispanofalantes: México

 

Breve história do país

Durante o período pré-colombiano, o território que hoje corresponde ao Panamá era habitado por diversos grupos indígenas como os emberás, gunas e ngöbe-buglé. Embora hoje em dia existam apenas vestígios dos seus assentamentos, sabe-se que esta região já era utilizada como rota de comércio pelos povos pré-colombianos muito tempo antes da chegada dos europeus, ligando principalmente os atuais México e Peru.

No século XVI, os primeiros exploradores espanhóis adentraram no território panamenho, sendo Rodrigo de Bastidas considerado aquele que iniciou o processo de colonização enquanto Vasco Núñez de Balboa é reconhecido como o primeiro europeu que teve contato com o Oceano Pacífico através do Panamá. Vale mencionar que durante o período colonial, já se debatia sobre a possibilidade de ligar os dois oceanos, mas por uma série de razões a empreitada não foi para frente. Assim, durante o domínio espanhol o território do Panamá pertenceu primeiramente ao Vice-Reino do Peru (1542-1824) e posteriormente ao Vice-Reino de Nova Granada (1717-1819). Durante este período, o local funcionou principalmente como uma rota de escoamento do ouro peruano até a Espanha.

Entretanto, o descontentamento dos seus habitantes crescia e em 1821 o Panamá declarou sua independência dos espanhóis, se juntando imediatamente a outras ex-colônias para formar a Grã-Colômbia (que ocupava os territórios dos atuais Panamá, Colômbia, Venezuela e Equador). Por outro lado, desavenças internas minaram a capacidade deste novo Estado de se gerir e ele encontrou seu fim definitivo com o desmembramento oficial em 1831, embora naquele momento o Panamá tenha permanecido como uma província pertencente à Colômbia.

Os hispanofalantes: Panamá

Yizack Rangel via Unsplash

Apesar de ser formalmente parte do território colombiano, o local novamente despontava em sua importância logística já que em 1846 foi construída no istmo do Panamá uma estrada de ferro que se tornou uma conexão mais rápida e vantajosa entre a costa leste e oeste dos EUA, o qual fervia com a Corrida do Ouro. A localização estratégica panamenha seria novamente posta na mesa de debate na virada do século XIX para o XX quando finalmente se concretizou o Canal do Panamá, cuja construção tem relação direta com o seu processo de independência (falaremos mais sobre isso no próximo item).

Ao longo do século XX, o Panamá passou por uma série de governos civis e militares, inclusive pela ditadura de Manuel Noriega que controlou o país com mãos de ferro de 1983 a 1989. Após sua queda o regime democrático regressou, contando com eleições livres e pacíficas. Desde 2019, o cargo de presidente é ocupado por Laurentino Cortizo. Atualmente, o Panamá se tornou um local muito atrativo para investimentos estrangeiros, sendo que sua capital é considerada o maior polo financeiro da América Central.

 

Curiosidade 1: O Grande Canal

As bases deste projeto, reconhecido como uma das maiores obras de engenharia já feitas, podem ser traçadas a 1878 quando o governo colombiano (que naquela época ainda detinha controle da região) forneceu a empreiteiros franceses a concessão para se construir um canal marítimo que ligasse os dois Oceanos através do istmo do Panamá.

A tarefa ficou sob responsabilidade de Ferdinand de Lesseps que já gozava de grande estima por causa da bem-sucedida construção do Canal de Suez no Egito. Entretanto, a dificuldade em adaptar a obra para o clima úmido bem como os inúmeros casos de malária e febre amarela que acometeram os trabalhadores não somente custou centenas de vidas, mas também gerou um gasto muito maior do que o esperado, o que levou os empresários franceses à bancarrota e consequentemente à paralisação do projeto.

Os hispanofalantes: Panamá

Stan Shebs via Wikimedia Commons

Foi justamente neste hiato que os EUA se apresentaram como um concorrente para finalizar a iniciativa. Anteriormente o país tinha cotado realizar projeto semelhante na Nicarágua, mas dado o novo cenário os EUA negociaram com os franceses a venda da concessão do canal, a qual acabou sendo cedida por Philippe Bunau-Varilla, engenheiro-chefe de Lesseps.

Contudo, o governo colombiano negou veementemente a venda e devido a tal impasse, Bunau-Varilla começou a articular com os EUA o processo de independência do Panamá, contando com o apoio de grupos locais que já há tempos estavam descontentes com o governo conservador de Bogotá tanto porque ele restringira a autonomia das províncias quanto pelas consequências nefastas da Guerra dos Mil Dias.

O plano foi bem-sucedido e em novembro de 1903 uma junta revolucionária declarou a independência do Panamá, cujo reconhecimento foi anunciado logo em seguida pelos EUA e as obras no canal foram retomadas, agora sob administração estadunidense. A Colômbia tentou reagir enviando tropas para o Panamá, mas foram surpreendidos por navios de guerra dos EUA que impediram a ação. Tal embate diplomático só se resolveria em 1914 com o tratado Urrutia-Thomson em que a Colômbia finalmente reconheceu a independência panamenha e em contrapartida foi ressarcida pelos EUA com o valor de US$ 25 milhões de dólares.

Aliás, foi nesse mesmo ano que o tão sonhado Canal do Panamá foi finalizado. Inicialmente estando sob o poder dos EUA, a administração da obra passou para os panamenhos em 1999 depois de anos de negociação e graças ao tratado Torrijos-Carter. Em 2016, o Panamá anunciou a expansão do seu canal, permitindo que navios maiores pudessem cruzá-lo.

Hoje em dia, o Canal do Panamá conta com 82 km de extensão, sendo possível transportar navios que carregam até 14 mil contêiners. Se você se interessou por essa grandiosa façanha da engenharia e queria saber mais a respeito, confira um documentário completo em espanhol clicando aqui.

 

Curiosidade 2: O berço do reggaeton

Talvez isso seja uma surpresa, já que muitos acreditam que o balançante ritmo reggaeton, queridinho das festas brasileiras, veio de Porto Rico. De fato, esta ilha caribenha desempenhou e ainda desempenha um papel importante tanto para a evolução quanto para a divulgação deste estilo musical em todo o mundo.

Os hispanofalantes: Panamá

Tanner Boriack via Unsplash

No entanto, de acordo com o produtor musical Rodney Sebastián Clark Donalds (El Chombo) bem como a pesquisadora Larnies Bowen, o reggaeton é de origem panamenha e ele só veio a existir por causa do seu icônico canal. O que aconteceu é que o Panamá recebeu diversos imigrantes que ajudaram a levantar a sua mais notável obra de engenharia, entre eles, jamaicanos que depois se instalaram no país. Tempos mais tarde, seus descendentes passaram a traduzir para o espanhol as canções de dancehall (ritmo oriundo do reggae) e a mesclar com outros estilos como a salsa e o hip hop.

O resultado final foi uma música animada e envolvente que primeiramente se popularizou na América Hispânica (como em Porto Rico de onde vem os principais representantes do gênero na atualidade) e depois para o resto do planeta. Entre os precursores panamenhos do reggaeton destacam-se El General, Nando Boom e Leonardo Renato Aulder.

 

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Personalidade ilustre: Mariano Rivera

Mariano Rivera é um ex-jogador de beisebol e notório lançador que jogou toda sua carreira pelo New York Yankees até se aposentar em 2013. Nascido em 29 de novembro de 1969 na Cidade do Panamá, ele é filho de Mariano Rivera Palacios e Delia Jiron, além de ter três irmãos. Sua família vinha de uma renda modesta, a qual era sustentada exclusivamente pelo trabalho do pai como capitão de um barco pesqueiro.

Durante a infância e adolescência, Mariano costumava praticar esportes, em especial futebol e beisebol. Contudo, devido a uma série de lesões acabou por se focar no segundo. Em 1989, Mariano já atuava como lançador de uma equipe local quando foi visto por um olheiro dos EUA que se surpreendeu com seu talento e o chamou para fazer parte do New York Yankees, fechando contrato a partir de 1990. Atuou em campeonatos menores até que em 1995 subiu para liga principal e permaneceu nela até sua aposentaria em 2013.

Os hispanofalantes: Panamá

Keith Allison via Wikimedia Commons

Membro do Hall da Fama da Major League Baseball (MLB), Mariano é o único jogador até hoje a ter recebido esta honraria com 100% de votos favoráveis. Além disso, foi selecionado 13 vezes para o Jogo das Estrelas da MLB e ajudou o New York Yankees a ser campeão em 5 ocasiões (1996, 1998, 1999, 2000 e 2009). Fora do campo, é também reconhecido pelo seu grande trabalho de caridade principalmente através da Mariano Rivera Foundation que auxilia pessoas carentes no Panamá e em outras localidades.

 

¡Hasta luego!

Esther Fuentes
Esther Fuentes