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Os hispanofalantes: Uruguai

A série dos hispanofalantes está se aproximando do fim. Por isso, para tratar dos dois últimos países da lista temos que retornar à América do Sul, onde vamos aprender um pouco mais sobre dois vizinhos famosos do Brasil. Especificamente no post de hoje, vamos até a nossa fronteira sul para conhecer a história e cultura do Uruguai, um destino bastante procurado pelos brasileiros, mas que ainda assim guarda muitos tesouros escondidos para descobrirmos.

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Informações gerais

Os hispanofalantes: Uruguai

Mayumi Maciel via Unsplash

Nome oficial: República Oriental do Uruguai

Capital: Montevidéu (Montevideo)

Área: 176.215 km²

Tipo de governo: república presidencialista

População: 3.425.330 habitantes

Maiores cidades: 1) Montevideo; 2) Salto; 3) Maldonado; 4) Paysandú; 5) Rivera

PIB total: $ 105,096 bilhões (estimativa 2023)

PIB per capta: $31.000 (estimativa 2023)

Principais produtos agrícolas: leite, arroz, trigo, cevada, soja, etc.

Principais indústrias: alimentos processados, maquinário elétrico, equipamento de transporte, produtos de petróleo, têxtil, etc.

Moeda: peso uruguaio

Documentos de entrada para turistas brasileiros: como Brasil e Uruguai fazem parte do Mercosul, o processo de entrada para brasileiros que queiram visitar o Uruguai é bem mais facilitado. Sendo assim, os turistas brasileiros podem ficar até 90 dias no Uruguai (com renovação para mais 90 dias) desde que apresentem obrigatoriamente:

  • Passaporte com validade mínima de 6 meses ou RG em bom estado

Para uma viagem mais tranquila, também se recomenda que os brasileiros estejam em posse de outros documentos, a saber:

  • Comprovante de renda para o período da estadia

  • Passagens de ida e volta (avião ou ônibus)

  • Comprovante de hospedagem

  • Seguro-viagem

Mais informações podem ser obtidas no site oficial de migração do Uruguai

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Breve história do país

Antes da chegada dos europeus, o território hoje correspondente ao Uruguai já era habitado por grupos indígenas dos quais se destacam especialmente os charruas. De acordo com os registros históricos, foi o espanhol Juan Díaz de Solis o primeiro explorador a oficialmente desembarcar no território uruguaio em 1516.

Apesar da tentativa dos charruas de se defenderem, o processo de colonização aconteceu de maneira rápida e sem grandes reveses. Por outro lado, como este território carecia de matérias-primas preciosas como ouro e prata, a região do Uruguai foi consideravelmente esquecida pela Coroa Espanhola. Isso é bem perceptível ao constatar que a primeira cidade uruguaia (antiga San Salvador e atual Dolores) foi fundada somente em 1574.

O interesse dos espanhóis no Uruguai só despertou realmente quando a Coroa Portuguesa começou a instalar seus próprios assentamentos na região a partir de 1680, cujo principal expoente é a Colonia del Sacramento. Por enxergarem como sendo uma ameaça ao seu domínio na região, as forças espanholas conseguiram expulsar os portugueses e o território uruguaio foi incorporado ao Vice-Reino do Rio da Prata. A situação permaneceu assim até o início do século XIX quando os movimentos independentistas ao longo de toda a América Latina começaram a borbulhar e o Uruguai se declarou independente da Espanha em 1815.

Os hispanofalantes: Uruguai

Christian von Koenig via Unsplash

No entanto, o recém-criado país não conseguiu se manter soberano por muito tempo, já que foi anexado ao Brasil em 1821 sob o nome de província Cisplatina (lembrando que nesta época a Família Real Portuguesa já estava no Brasil, mas o país em si só se tornaria um Estado independente no ano seguinte). Os anos subsequentes foram de grandes tensões e revoltas, mas que finalmente culminaram na definitiva independência uruguaia em 1828 e a instauração da república em 1830.

O restante do século XIX no Uruguai ainda seria marcado por altos e baixos, sendo que os dois partidos do país, os blancos (conservadores) e os colorados (liberais), se enfrentaram frequentemente de maneira tão hostil que tal embate desembocou na guerra civil chamada de “Guerra Grande” e que durou de 1839 a 1852. Após o fim deste conflito, o Uruguai conseguiu se reerguer e promover uma série de reformas de caráter econômico e social.

O último período de grande turbulência no país aconteceu em 1973 quando o então presidente Juan María Bordaberry passou a governar o país por meio de uma ditadura cívico-militar após um golpe de Estado realizado em junho daquele ano. O período contou com uma forte resistência da população, a qual foi repreendida com prisões, perseguições e assassinatos. Eventualmente, em 1984 os uruguaios conseguiram voltar às eleições democráticas e assim permanece até os dias atuais.

Desde março de 2020, a presidência do país está a cargo de Luis Lacalle Pou do Partido Nacional (também conhecido como os blancos).

Curiosidade 1: Carnaval uruguaio

Assim como no caso brasileiro, o carnaval no Uruguai é um dos principais acontecimentos do ano, sendo muitas vezes referenciado como a celebração carnavalesca mais longa do mundo, já que dura aproximadamente 40 dias e se estende desde o final de janeiro até o começo de março.

Também como ocorre no Brasil, as origens do carnaval vem de raízes europeias que ao longo do tempo se misturaram com tradições de outros povos, especialmente os africanos. Deste grupo, destaca-se o candombe, ritmo originário de Angola e que, além de ser considerado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, também é presença obrigatória nos desfiles do carnaval uruguaio.

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Media Room Intendencia of Montevideo via Wikimedia Commons

Principalmente a partir do século XX, as festas deste período se dividiram em três manifestações bem específicas: 1) as apresentações músico-teatrais cujos expoentes principais são as murgas e os grupos carnavalescos chamados de “comparsas”; 2) desfiles satíricos como os “corsos”; 3) bailes de carnaval, sendo o baile de máscaras um dos mais comuns no início do século XX e cuja tradição busca-se recuperar.

O carnaval do Uruguai está se tornando cada vez mais conhecido e, além dos locais que enchem as ruas do país, mais e mais estrangeiros têm também se interessado pela festa, incluindo turistas brasileiros.

Curiosidade 2: Colonia del Sacramento

Normalmente referenciada apenas como “Colonia”, esta cidade de importância histórica dista aproximadamente 180 quilômetros de Montevidéu e somente 50 quilômetros da capital argentina, Buenos Aires.

De acordo com o Tratado de Tordesilhas assinado entre Espanha e Portugal, o território uruguaio deveria fazer parte dos domínios espanhóis e, como mostrado anteriormente na seção sobre a história do país, a Coroa Espanhola chegou a tomar posse do local, mas não se importou em realmente desenvolver um assentamento organizado, já que sua atenção estava focada em colônias com maior potencial exploratório para metais preciosos como prata e ouro.

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Gonzalo Kaplanski via Unsplash

Esta ausência despertou o interesse português que desejava expandir seus territórios na América do Sul e o resultado desta empreitada foi a fundação da Colônia de Sacramento em 1680 por Manuel Lobo. Tendo em vista o risco real de perder estas terras, as forças espanholas passaram a se estruturar melhor na região e finalmente conseguiram expulsar os portugueses de Sacramento em 1777. Com o tempo, a cidade foi se desenvolvendo até se tornar um famoso ponto turístico uruguaio.

Em 1995, o centro histórico da Colonia del Sacramento foi reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO graças a sua espetacular fusão de elementos arquitetônicos portugueses e espanhóis que retratam perfeitamente este período tão relevante para a história do país.

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Personalidade ilustre: Eladio Dieste

Eladio Dieste foi um engenheiro uruguaio nascido na cidade de Artigas em 1 de dezembro de 1917 e um dos nomes nacionais mais reconhecidos no campo da construção e arquitetura, sendo particularmente reverenciado pela sua técnica autoral chamada “cerâmica armada”, uma combinação de ladrilhos, estrutura de aço e uso mínimo de concreto que revolucionou os trabalhos feitos em cerâmica.

Aos 26 anos, Dieste foi aceito para a faculdade de engenharia da Universidad de la República em Montevidéu, tendo posteriormente recebido o título de doutor honoris causa da sua antiga universidade em 1993 e da Universidad de Montevideo em 1999.

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Gerardo Conti P via Wikimedia Commons

Devido ao caráter inovador de sua técnica, Dieste também foi homenageado em mais de uma ocasião como em 2005 quando o Museu de Arte Moderna de Nova York, a Universidade de Princeton e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts elegeram 2005 como o “Ano Eladio Dieste” e em 2021 quando sua obra mais significativa, a Iglesia del Cristo Obrero, foi considerada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Dieste faleceu em Montevideo em julho de 2000 aos 82 anos de idade, deixando um legado de mais de 30 projetos especialmente no Uruguai, mas também no Brasil e na Espanha.

Esther Fuentes
Esther Fuentes