Patrimônios espanhóis: Caverna de Altamira e Arte Paleolítica | Cultura Espanhola
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Patrimônios espanhóis: Caverna de Altamira e Arte Paleolítica

A arte tem acompanhado os seres humanos desde o início da civilização humana e essa afirmação é mais do que provada com o texto de hoje. Dessa vez, vamos viajar para o norte da Espanha e voltar no tempo para mais de 30 mil anos antes de Cristo! Consegue imaginar o quão longe estamos indo?

Pois é, o post deste mês para a série dos patrimônios espanhóis desembarcou lá na Pré-História e vai mostrar para você os registros que nossos ancestrais nos deixaram na rocha e que nos contam um pouco sobre a vida dos primeiros Homo sapiens que pisaram sob a Terra. Assim, venha conosco conhecer a Caverna de Altamira e a Arte Paleolítica do Norte da Espanha.

Patrimônios espanhóis: Caverna de Altamira e Arte Paleolítica

Jl FilpoC via Wikimedia Commons

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Descobertas arqueológicas e localização das cavernas

O paleolítico (comumente chamado de “pedra lascada”) é considerado o primeiro período da Pré-História e engloba de 2,6 milhões até 10.000 anos a.C. Dentro deste longo espaço temporal, ele é subdividido em três categorias: Paleolítico Inferior, Paleolítico Médio e Paleolítico Superior. É neste último que vamos nos focar porque foi nesta época que tribos nômades de caçadores e coletores se instalaram na Caverna de Altamira e em outras dezessete cavernas da região norte da Espanha.

Patrimônios espanhóis: Caverna de Altamira e Arte Paleolítica

Luis Lafuente Agudín via Wikimedia Commons

Estes grupos já eram compostos por Homo sapiens, ou seja, os primeiros humanos que habitaram o planeta Terra, e registraram nas paredes das cavernas uma série de desenhos de animais e símbolos (como contornos de mãos) que não só trazem cenas do cotidiano destes povos, como também pistas sobre suas crenças e espiritualidade.

A Caverna de Altamira foi a primeira a ser considerada patrimônio da humanidade em 1985, sendo que uma ampliação deste reconhecimento foi feito em 2008. Atualmente, este sítio arqueológico compreende 18 cavernas que se espalham por três comunidades autônomas:

Cantábria:

  • Altamira
  • Chufín
  • Hornos de la Peña
  • Las Monedas
  • La Pasiega
  • Las Chimeneas
  • El Castillo
  • El Pendo
  • La Garma
  • Covalanas

Astúrias:

  • Peña de Candamo
  • Tito Bustillo
  • Covaciella
  • Llonín
  • El Pindal

País Basco:

  • Santimamiñe
  • Ekain
  • Altxerri

 

Admissão na UNESCO

A análise da UNESCO concluiu que estes exemplares tinham um “Valor Universal Notável”, isto é, sua importância para a história da humanidade é tão excepcional que está além de questões fronteiriças. Sendo assim, sua preservação permanente é interesse de toda comunidade internacional, já que diz respeito a um registro precioso de um passado que conecta todos os seres humanos enquanto espécie.

Falando em conservação, um fato interessante que contribuiu para a preservação das artes rupestre nestes cavernas espanholas é que elas foram pintadas nas regiões mais profundas destes espaços. Consequentemente, estes desenhos ficaram protegidos das ações climáticas mais adversas que certamente os danificariam se estivessem em um local mais aberto.

Patrimônios espanhóis: Caverna de Altamira e Arte Paleolítica

Sautuola1880 via Wikimedia Commons

Outra grande preocupação durante a avaliação condizia à autenticidade destas pinturas, já que se tratava de um tema deveras significativo para a humanidade. Como apontado pela própria UNESCO, diversas pesquisas foram desenvolvidas desde a descoberta destas cavernas e em todos os casos foi provado que aquelas artes realmente pertenciam ao período paleolítico, sendo que nunca se realizou qualquer tipo de restauração que alterasse as obras originais.

Desta forma, a Caverna de Altamira e a Arte Rupestre Paleolítica do Norte da Espanha alçaram ao posto de patrimônios da humanidade pela UNESCO com a distinção de “Valor Universal Notável” por terem exitosamente atendido aos seguintes critérios:

(i): a arte rupestre paleolítica do norte da Espanha ilustra completa e significativamente algumas das primeiras artes humanas, durante um longo período da história do Homo sapiens. É um testemunho do gênio criativo dos seres humanos durante os diferentes períodos do Paleolítico Superior.
 
(iii): o conjunto presta um testemunho notável e único de um palco antigo, que desapareceu há mais de 10.000 anos, das origens da civilização humana. Este foi o período em que os caçadores-coletores do Paleolítico Superior alcançaram uma expressão artística, simbólica e espiritual concreta de sua sociedade humana.

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Caverna de Altamira: história e características

Para ilustrar a magnitude destes patrimônios, vamos apresentar mais detalhes sobre Altamira, caverna especialmente importante não apenas por ter sido o primeiro destes sítios a ser considerado patrimônio da UNESCO em 1985, mas também por toda história em torno de sua descoberta e suas características particulares.

De acordo com alguns estudos, por volta de 11.000 a.C. um desabamento bloqueou a entrada da caverna, o que permitiu que seu interior ficasse espetacularmente bem preservado. Foi somente em 1868 que a entrada foi novamente descoberta graças ao tecelão asturiano Modesto Cubillas que estava caçando e foi salvar seu cachorro que tinha ficado preso em uma das pedras. Cubillas teria então informado sobre o ocorrido a Marcelino Sanz de Sautuola, proprietário do local que fez uma primeira visita à entrada, mas sem grandes expectativas.

Patrimônios espanhóis: Caverna de Altamira e Arte Paleolítica

MatthiasKabel via Wikimedia Commons

Foi somente na segunda vez, quando Sautuola levou junto a sua filha de cinco anos, María Sanz de Sautuola y Escalante, que o verdadeiro tesouro foi descoberto. Enquanto o pai permanecia no começo da caverna, a menina quis se aventurar um pouco mais adentro e foi então que ela se deparou com “bois gigantes” pintados no teto e veio contar ao seu pai. Sautuola ficou impressionado com o que viu e até reportou para respeitados paleontólogos e especialistas em Pré-História, mas o estado de conservação era tão extraordinário que a princípio a comunidade científica acreditou ser uma fraude. A autenticidade da arte de Altamira só foi reconhecida em 1895 quando o arqueólogo francês Émile Cartailhac reconsiderou sua posição em um artigo após serem descobertas outras cavernas semelhantes na França.

Considerada por muitos como “A Capela Sistina da Arte Rupestre”, a Caverna de Altamira se estende por 270 metros de comprimento onde foram encontradas diversas pinturas de bisões, cavalos e cervos principalmente em tons pretos e avermelhados. Devido à ação natural do tempo, muitas das pinturas assumiram um tom policromado, o que dá a impressão de que foram utilizadas técnicas artísticas muito mais avançadas para a época. Além da arte nas paredes da caverna, foi também descoberto em Altamira uma série de ferramentas utilizadas por aqueles habitantes do paleolítico e que contam mais informações sobre seu modo de vida e sua evolução.

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Proteção das cavernas e visitações

Por causa de sua importância para a história da humanidade, atualmente a maioria das cavernas são de uso restrito, limitadas a pesquisadores ou outras pessoas previamente autorizadas. A ideia com esta decisão é garantir ao máximo a preservação destes locais. Além disso, todas as cavernas estão sob proteção da Lei Espanhola de Patrimônios Históricos (1985), a legislação de suas respectivas comunidades autônomas e possuem planos de gestão para fornecer a infraestrutura de pesquisa e conservação necessárias.

Patrimônios espanhóis: Caverna de Altamira e Arte Paleolítica

Fernando Calvo Rollán via Wikimedia Commons

Apesar de que visitar fisicamente estes espaços não seja possível, os turistas têm à disposição diversos museus próximos a estas cavernas que conseguiram reconstituir com o máximo de fidelidade as pinturas contidas nos locais originais e trazem dados muito interessantes sobre as descobertas arqueológicas destes povos. No vídeo abaixo, mostramos para você uma breve apresentação feita pelo Museo de Altamira e que já nos dá um gostinho do que podemos encontrar lá:
 

La cueva de Altamira – Breve presentación

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Esperamos que tenha gostado do texto de hoje. Nos vemos na próxima semana!

¡Abrazos!

Esther Fuentes
Esther Fuentes