Artes e ciências em Al-Andalus | Cultura Espanhola
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Artes e ciências em Al-Andalus

Como já foi mencionado aqui no blog especialmente no último post sobre a série dos hispanofalantes, a Espanha é um país multicultural desde os seus primórdios, tendo recebido em seu território diferentes povos que juntos contribuíram para o seu desenvolvimento político, econômico, social e cultural.

Dentre estes grupos, um dos mais conhecidos são os muçulmanos provenientes do Oriente Médio e Norte da África, cuja expansão dos seus domínios no século XVIII d.C. chegou à Península Ibérica.

Artes e ciências em Al-Andalus

Saad Chaudhry via Unsplash

Inicialmente fazendo parte do Califado Omíada, a região logo se organizou em uma administração própria, primeiro como o Emirado de Córdoba (756-929), depois como Califado de Córdoba (929-1031) e posteriormente sob um regime de reinos mulçumanos independentes conhecidos como Taifas (1031-1492). O último destes reinos foi justamente o de Granada que em 1492 sucumbiu às tropas cristãs durante a Guerra de Reconquista, o que consequentemente encerrou a dominância muçulmana na região.

Apesar do seu fim, é inegável os intensos avanços alcançados em diversos campos do saber ao longo dos mais de sete séculos de era Al-Andalus, os quais, por sua vez, fazem parte de um conjunto mais amplo conhecido como “Idade de Ouro Islâmica”. Sendo assim, no texto de hoje vamos trazer algumas das principais manifestações artísticas e descobertas científicas de Al-Andalus, cuja relevância para a humanidade ainda se faz presente nos tempos atuais.

 

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Astronomia

Por todo o mundo mulçumano o estudo da astronomia não era somente praticado como altamente valorizado e em Al-Andalus não foi diferente. Acredita-se que os primeiros astrônomos propriamente andalusíes surgiram no século X durante o Califado de Córdoba.

Artes e ciências em Al-Andalus

Vincentiu Solomon via Unsplash

Eles desempenharam valiosas contribuições para a área principalmente com a elaboração detalhada de tábuas astronômicas, precisos modelos de projeção, o aperfeiçoamento de instrumentos de medição já existentes tal qual o astrolábio bem como a invenção de novos como a azafea.

Entre seus intelectuais, destacam-se:

  • Jabir ibn Aflah, autor do “Libro de astronomía/cosmologia”;
  • Maslama Al-Mayrity, exímio mestre matemático, fundador da Escola de Matemáticas e Astronomia em Córdoba e conselheiro astrológico do chefe político-militar Almanzor;
  • Azarquiel, considerado um dos maiores astrônomos e matemáticos de Al-Andalus, responsável por inventar a azafea, vista por muitos especialistas como a precursora do GPS;
  • Ibn al-Saffar, cujos estudos influenciaram Johannes Kepler, astrônomo e matemático alemão do século XVII e autor das “Leis da Mecânica Celeste”

 

Engenharia e arquitetura

Definitivamente as conquistas andalusíes em relação à engenharia e arquitetura são os traços mais marcantes deste período, tendo em vista que muitos monumentos da época ainda se mantém de pé e podem ser visitados até hoje para o deleite dos turistas que têm a chance de “voltar no tempo” ao contemplar estas magníficas estruturas.

Artes e ciências em Al-Andalus

Gabriel Trujillo via Unsplash

Em Al-Andalus, as bases das construções utilizavam notadamente a madeira e alvenaria, enquanto materiais como azulejos, gesso, metais (em especial, o ouro) bem como pedras preciosas eram escolhidos para compor os acabamentos e decorações dos espaços. Na arquitetura, eram muito comuns os arcos de ferradura e lobulados (com um formato que se assemelha a folhas), as cúpulas nervuradas bem como os jardins cuidadosamente desenhados e com a presença de algum reservatório de água sejam fontes ou espelhos d’água.

Alguns dos maiores expoentes deste período são:

  • A Mesquita-Catedral de Córdoba
  • A fortaleza de Alhambra em Granada
  • Real Alcázar de Sevilha
  • Palácio de la Aljafería de Zaragoza

 

Veja também: Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita

 

Livros, literatura e poesia

Durante o Califado de Córdoba, especialmente sob os governos de Abderramán III e Al-Hakam II, Al-Andalus experienciou uma alavancada na promoção do conhecimento sob um ambiente consideravelmente tolerante, o que permitiu que mesmo obras fora do escopo muçulmano clássico florescessem.

Um exemplo disso era a Biblioteca Califal de Córdoba, cujos registros indicam que ela detinha mais de 400.000 livros em sua coleção. Além disso, devido à flexibilidade dos governantes, vários títulos greco-romanos antigos também foram introduzidos ao catálogo, os quais foram traduzidos para o árabe. Com esse movimento, o Califado de Córdoba não somente fez com que este conhecimento se espalhasse para outras áreas do mundo muçulmano como também possibilitou que a sua biblioteca se tornasse a maior instituição dedicada ao saber em toda a Europa naquela época.

Artes e ciências em Al-Andalus

Rachid Oucharia via Unsplash

Dentro do ramo da literatura, a produção poética de Al-Andalus foi particularmente frutífera sendo que os temas giravam normalmente em torno da exaltação do poder muçulmano e da vida nos palácios, mas também sobre o amor e a natureza. Alguns dos principais poetas deste período foram Ibn Zaydūn, Ibn Hazm e Ibn Khafaja que dividiam seu lugar de prestígio com mulheres poetas igualmente reconhecidas por sua habilidade e talento como Wallada bint al-Mustakfi (princesa Wallada) e Lubna de Córdoba que também se destacava como uma grande matemática.

 

“Estoy hecha por Dios, para la gloria

Camino orgullosa por mi propio camino.

Doy poder a mi amante sobre mi mejilla

Y mis besos ofrezco a quien los desea”

(Princesa Wallada)

 

 

Matemática

Em Al-Andalus, a matemática e a astronomia conviviam lado a lado diariamente. Portanto, não é surpresa que muitos matemáticos andalusíes também se dedicavam ao estudo dos céus e vice-versa. Um deles é o já mencionado Maslama Al-Mayrity que foi responsável por traduzir obras do grego Ptolomeu e difundir o trabalho de Al-Juarismi (também chamado de Algorithmi), em especial a respeito do número zero.

Artes e ciências em Al-Andalus

Rafa Esteve via Wikimedia Commons

Neste período, diferentes áreas da matemática como a álgebra e trigonometria se beneficiaram das trocas de conhecimento incentivadas em Al-Andalus de modo que os conceitos teóricos puderam ser aplicados na prática seja para o controle das finanças, desenvolvimento de construções e o comércio. Outros nomes relevantes foram Ibn al-Samh, aluno de Maslama e profundo estudioso da geometria bem como Al-Qalasadi, grande matemático já do final do domínio muçulmano e que se tornou um pioneiro do campo ao incluir símbolos algébricos, isto é, letras junto com as equações.

 

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Medicina e farmacopeia

Por fim, mas não menos importante, a medicina também desfrutou de um enorme progresso em Al-Andalus. Inicialmente, muito do conhecimento foi alcançado pelo intercâmbio com a sabedoria oriental e grega antiga, mas aos poucos uma série de médicos andalusíes foram se revelando e trazendo visíveis melhorias para a medicina da época.

Artes e ciências em Al-Andalus

Wikimedia Commons (domínio público)

Um deles foi Averroes, médico do Califado Almóada e autor do “Libro de las generalidades de la medicina”, referência na área médica séculos depois de sua morte. Outra personalidade relevante foi Abulcasis, considerado o melhor cirurgião do seu tempo e “pai da cirurgia moderna”. Seu principal trabalho denominado Al-Tasrif se constitui em uma vasta enciclopédia médica de 30 volumes, nos quais Abulcasis discorre sobre diversos temas desde operações oculares até indicações de como retirar pedras do pâncreas e outras cirurgias do sistema gastrointestinal.

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Neste texto falamos um pouco sobre a promoção das artes e ciências em Al-Andalus, mas, na realidade, ainda há muito a se dizer. Se você ficou interessado, nós recomendamos muito que vejam a série documental “Al-Andalus: o legado” que está disponível na íntegra em espanhol pelo Youtube.

 

Abaixo, você pode clicar no link que leva ao primeiro vídeo:

 

Esperamos que tenha gostado do post de hoje e se encantado com o esplendor que foi o período Al-Andalus. Nos vemos na semana que vem!

 

¡Un abrazo fuerte!

Esther Fuentes
Esther Fuentes