No último post, nós falamos sobre a influência sefardita na Espanha e contamos como essa parte da história espanhola, pouco conhecida pelos brasileiros, se converteu em uma incrível rota de turismo: os Caminos de Sefarad.
Hoje, vamos tratar de mais um fantástico itinerário para você considerar em suas próximas vacaciones e que diz respeito a um querido personagem da literatura mundial, o qual com certeza você já ouviu falar: o engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha.
Assim, caros cavaleiros andantes, preparem-se para a sua mais nova aventura repleta de castelos, cidades encantadoras, paisagens deslumbrantes e moinhos (ou seriam gigantes?) tal qual só as melhores histórias de cavalaria são capazes de contar e venham conhecer a Ruta de Don Quijote!
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“En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme”
A criação da rota
Desenvolvida em 2005 em razão dos quatrocentos anos de publicação de Dom Quixote (lembrando que o primeiro volume da obra foi lançado em 1605 e o segundo somente em 1615), a iniciativa adveio do governo de Castilla-La Mancha como parte da campanha “Cultura e Ingenio para el Desarollo Sostenible en Castilla-La Mancha”.
Atualmente, 148 municípios participam do projeto, os quais trazem consigo alguma ligação com Dom Quixote (por exemplo, um ambiente icônico mencionado no livro) ou ao seu autor, Miguel de Cervantes. Perfazendo um total de 10 trajetos, os visitantes têm à sua disposição uma vasta quantidade de alternativas para escolher a depender do seu gosto pessoal e tempo disponível para a viagem.
Para maior conforto, recomenda-se fazer este passeio por carro (é possível alugar nas grandes cidades próximas como Madri) ou pela contratação de uma agência de turismo para realizar uma excursão de ônibus.
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Nas pegadas de Cervantes
Como mencionado anteriormente, a Rota de Dom Quixote se espalha por diferentes localidades da região de Castilla-La Mancha (embora também possam ser incluídos alguns pontos na Comunidad de Madrid).
Seja como for, alguns destes destinos são paradas praticamente obrigatórias para quem quer se sentir dentro da história do bondoso fidalgo. Por isso, abaixo vamos apresentar algumas sugestões para você considerar em sua própria aventura:
“Por la libertad, así como por la honra, se puede y debe aventurar la vida”
- Alcalá de Henares
Este é um dos exemplos de cidade que pertence, na realidade, à Comunidad de Madrid, mas que definitivamente não poderia estar de fora da nossa lista. Afinal, foi lá que nasceu o homem responsável por dar vida a Dom Quixote!
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Em Alcalá de Henares, os turistas podem visitar o Museo Casa Natal de Cervantes e ter uma ideia de como era a residência do autor, bem como os utensílios e decorações típicos de sua época. Logo na entrada do museu, um banco de rua com as estátuas do intrépido cavaleiro andante e seu fiel escudeiro, Sancho Pança, saúdam os visitantes.
Além do museu, vale a pena ir até a Plaza de Cervantes na área central da cidade e dar uma espiadinha na imponente estátua do escritor junto a um belíssimo jardim.
- Esquivias
Se Dom Quixote tem a sua Dulcineia, nada mais justo que a dama de Cervantes também seja igualmente homenageada. Nesse caso, se trata de Catalina de Salazar y Palacios, cujo local de nascimento é a pequena cidade de Esquivias, já na província de Toledo.
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O matrimônio do casal ocorreu em 1548 e durante um certo período eles chegaram a morar nesta localidade. De fato, a antiga casa de Cervantes e Catalina existe até os dias atuais e foi transformada em um museu (Casa-Museo Miguel de Cervantes) que atualmente está fechado para reformas, mas que reabrirá em breve.
Caso ainda tenha um tempinho livre, não deixe de conhecer a Paróquia de Nuestra Señora de la Asunción, construída por cima da antiga igreja Santa María de la Asunción, onde Catalina e Cervantes se casaram.
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- Argamasilla de Alba
Se você chegou a ler o nosso primeiro post deste mês sobre a Espanha para a série dos hispanofalantes, sabe que comentamos rapidamente a respeito de Miguel de Cervantes e como ele teve uma vida bem agitada, para dizer o mínimo, desde se envolver em combates, fugir para a Itália até ser feito escravo em Argel e conseguir sua liberdade cinco anos depois.
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Porém, o que talvez você não saiba é que em Argamasilla de Alba Cervantes foi novamente preso. Ainda não há uma total clareza quanto ao motivo, mas especula-se que teria relação com o pagamento de impostos. Entretanto, o ponto realmente interessante é que a Cueva de Medrano, prisão onde o escritor ficou por alguns meses, ainda está de pé exatamente da maneira como era e pode ser visitada também.
E por qual razão se visitaria uma prisão? Bem, a lenda conta que foi lá onde Cervantes começou a escrever seu magnum opus que o tornou célebre até os dias atuais. Já imaginou se Argamasilla de Alba é o famoso “lugar de La Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me…”?
“La virtud más es perseguida de los malos que amada de los buenos”
- Puerto Lápice
Este pequeno pueblo, apesar de contar hoje em dia com menos de 900 habitantes, tem seu lugar devidamente reconhecido na obra Dom Quixote, aliás, não uma, mas duas vezes o cavaleiro andante passeou por aquelas bandas para viver grandes aventuras.
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Neste vilarejo, a joia da coroa quixotesca é, sem dúvidas, a Venta del Quijote, um restaurante onde você terá a chance de saborear a deliciosa gastronomia manchega e admirar a construção regional típica ao estilo da época de Cervantes. Embora não esteja relacionado com a obra, a bela Plaza de la Constitución também merece uma visita.
- Consuegra, Alcázar de San Juan e Campo de Criptana
Estas três localidades abrigam aqueles que talvez sejam um dos símbolos mais famosos associados ao universo de Dom Quixote: os moinhos de vento. No capítulo 8 da obra, o bondoso fidalgo se depara com uma fileira destas construções, as quais ele acredita piamente se tratar de gigantes.
Lourdes Cardenal via Wikimedia Commons
Para desespero de Sancho, Dom Quixote corre com seu cavalo Rocinante rumo aos moinhos e ataca-os com sua lança. Evidentemente, o plano foi por água abaixo quando a hélice de um deles lança com violência tanto o cavaleiro quanto seu cavalo rumo ao chão.
Hoje em dia, podemos dizer que esses “gigantes” estão bem mais calmos e totalmente disponíveis para serem fotografados por turistas amantes desta obra centenária. Se optar pelos moinhos de Consuegra, verá que cada um deles tem um nome relacionado ao livro, sendo o moinho “Sancho” o mais famoso por ainda manter dentro de si o maquinário original do século XVI. Um pouco atrás dos doze moinhos, os visitantes ainda podem conhecer o Castillo de Consuegra, um dos mais preservados da região e lar da Ordem dos Hospitalários durante a Idade Média.
Em Alcázar de San Juan, é possível combinar a visita aos moinhos com passeios ao Museo Casa del Hidalgo, o qual traz um interessante panorama da vida dos fidalgos como seria o caso de Alonso Quijano, bem como o Centro de Interpretación Cervantino, dedicado a estudar mais profundamente sobre Dom Quixote. Por outro lado, se você quer conhecer os verdadeiros moinhos que inspiraram Cervantes, as pesquisas mais recentes levam a crer que são, na realidade, aqueles localizados em Campo de Criptana.
Como pode perceber, “gigantes” é o que não falta lá pelas terras manchegas.
- Ossa de Montiel
Outras três passagens muito conhecidas do livro aconteceram onde hoje está o município de Ossa de Montiel, na província de Albacete. A primeira delas é a Cueva de Montesinos, uma caverna por onde Dom Quixote adentrou e teve uma experiência mágica com o cavaleiro Montesinos, importante figura dos contos cavaleirescos. As visitas ao local são permitidas, porém devem obrigatoriamente ter a presença de um guia. Mais ou menos a 1km de distância, também é possível apreciar as ruínas do Castillo de Rochafrida, datado do século XIII.
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O terceiro local é o Parque Natural de las Lagunas de Ruidera que se espalha por cinco municípios (Alhambra, Argamasilla de Alba, Ossa de Montiel, Ruidera e Villahermosa). As lagunas pertencentes a este parque também foram citadas na obra de Cervantes quando Dom Quixote conta a Sancho que elas foram criadas a partir da magia de Merlin. De fato, as lagunas são de uma beleza natural fascinante que mais parecem tiradas de uma história de fantasia.
- El Toboso
Por último, não podíamos deixar de lado o local de origem da nobre donzela que cativou o coração de Dom Quixote: Dulcinéia de Toboso.
A cidade de El Toboso está a aproximadamente 20 minutos de Campo de Criptana e respira a obra de Cervantes por todos os cantos como na Plaza Mayor cuja rua leva o nome do autor e abriga as estátuas de Dom Quixote e Dulcinéia. Além do monumento, outras pontos importantes são o Museo Cervantino que reúne exemplares raros de Dom Quixote de todos os lugares do mundo e o Museo-Casa de Dulcinea del Toboso, o qual acredita-se ter sido a residência de Ana Martínez Zarco de Morales, a mulher que inspirou Cervantes a criar a personagem de Dulcinéia.
Lourdes Cardenal via Wikimedia Commons
Outro fato curioso é que El Toboso celebra anualmente no final do mês de abril as Jornadas Cervantinas em comemoração ao Dia Mundial do Livro (23 de abril). Nesta época, a cidade se transforma para celebrar a beleza da literatura e seu papel protagonista na obra mais famosa de Cervantes, enquanto seus habitantes, cantam, dançam e se divertem com espetáculos e eventos variados.
A edição de 2024 acontecerá daqui a pouco entre os dias 25 e 28 de abril. No vídeo abaixo, dá para ter uma ideia de como é essa festa:
“Si acaso doblares la vara de la justicia, no sea con el peso de la dádiva, sino con el de la misericordia”
E você, qual passagem de Dom Quixote é a sua favorita? E qual destas localidades ficou com vontade de conhecer? Depois nos conte mais!
¡Saludos quijotescos!
