Bodas de Isabel: o “Romeu e Julieta” espanhol

As histórias detêm a capacidade singular de mexer com as emoções dos leitores/espectadores e, quando bem-feitas, conseguem deixar uma marca indelével naqueles que tiveram contato com ela. Se isto é verdade para histórias de uma maneira geral, então imagina o quanto este efeito se potencializa quando tratamos de casos de amor impossível. Neste cenário, há grandes chances de que esta narrativa se torne atemporal, atravessando séculos, países e culturas.

Alguns exemplos conhecidos na literatura são Romeu e Julieta e O Romance de Tristão e Isolda, mas por acaso você sabia que a Espanha também tem um conto de amor inalcançável? Trata-se da lenda dos “Amantes de Teruel”, uma emocionante lenda medieval que no final do século XX se transformou em um evento muito procurado nesta cidade da comunidade de Aragão.

Assim, vamos voltar à Idade Média e mergulhar de cabeça (e coração) nas Bodas de Isabel de Segura!

 

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O “Romeu e Julieta” espanhol

Antes de tratarmos sobre o evento propriamente dito que toma as ruas de Teruel todo mês de fevereiro, vamos começar pelo início, contando sobre a lenda dos amantes.

De acordo com a tradição oral, nossa história aconteceu nos primeiros anos do século XIII quando Isabel de Segura e Diego de Marcilla (originalmente chamado de Juan), dois jovens pertencentes a famílias nobres e que se conheciam desde pequenos, se apaixonaram perdidamente. No entanto, Isabel era filha única dos Segura, enquanto Diego era o segundo filho de sua família. Pelo costume da época, o rapaz não herdaria nada de seus pais e, portanto, não se figurava como um candidato à altura para Isabel que deveria se casar com um partido mais relevante e com posses suficientes para manter o prestígio dos Segura.

Os dois sabiam que, nestas condições, sua união jamais seria aceita. Por isso, Diego se compromete a ir lutar nas guerras da Reconquista com a esperança de provar o seu valor e ganhar em troca riquezas, terras e títulos que o fizessem um pretendente aceitável para a família de Isabel. Os amantes determinaram um prazo de cinco anos, o qual Isabel concordou esperar até seu amado retornar.

Pouco se sabe dos percalços que Diego teve que enfrentar, embora supõe-se que foram muitos. Neste meio tempo, Isabel continuou rejeitando todas as tentativas de seu pai para que se casasse com algum pretendente, arrumando diversas desculpas e afirmando que tinha feito um voto de virgindade que a impedia de se casar por um prazo de cinco anos.

O tempo foi passando e nenhuma notícia a respeito de Diego chegava a Teruel, o que muitos passaram a suspeitar que a única explicação possível era que o jovem teria morrido em batalha. Constantemente pressionada pela família, Isabel enfim cede ao final do prazo e aceita casar-se com Pedro de Azagra, pertencente a uma família igualmente importante da região.

Passado apenas um dia do prazo acordado, Diego finalmente retorna a Teruel. Por ter sido exitoso em sua jornada, ele acredita que finalmente realizará seu sonho de se casar com Isabel, mas qual não foi dolorosa a sua surpresa quando descobriu que sua amada havia recentemente se tornado a esposa de Azagra.

Desesperado, o jovem invade os aposentos do casal e consegue acordar sutilmente Isabel. Os amantes finalmente se reencontram, mas agora se veem impedidos de seguir em frente por causa do juramente sagrado do matrimônio. Em sua última súplica, Diego pede a Isabel que a beije antes que morra. Por se manter firme aos seus votos matrimoniais, Isabel recusa, ainda que angustiada, a prece de Diego. O jovem, não aguentando tamanha tristeza, morre com seu coração partido. Atordoada com a morte de seu amado, Isabel acorda seu marido e ambos levam o corpo de Diego discretamente à casa dos pais do rapaz de modo que ninguém perceba suas presenças.

No dia seguinte, ocorre o funeral de Diego e, na igreja, uma figura feminina é vista se aproximando do corpo. Trata-se de Isabel que após revelar-se chega próxima ao amado e finalmente o beija aos prantos. Não suportando a dor pela perda de seu grande amor, Isabel desfalece sobre Diego e morre instantaneamente para o espanto e a aflição de todos.

Assim, os habitantes de Teruel enfim compreendem a profundidade do sentimento dos dois e, para honrá-los, os amantes são enterrados um ao lado do outro de modo que possam estar juntos para toda a eternidade.

 

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Impacto da lenda

Esta trágica, porém, emocionante história se tornou um dos principais atrativos de Teruel que manteve sua memória viva através das gerações. Curiosamente, em 1555 reformas realizadas na Iglesia de San Pedro revelaram dois cadáveres (um homem e uma mulher) sob a Capela de São Cosme e Damião, fazendo com que muitos acreditassem que se tratava justamente de Isabel e Diego.

A lenda ganhou ainda mais força quando os dramaturgos Tirso de Molina e Juan Eugenio de Hartzenbusch contaram suas versões da história e o amor impossível de Isabel e Diego se espalhou. Dada à crescente popularidade, a capela acabou sendo renomeada para “Capela dos Amantes” e, na década de 1950, as duas múmias passaram de tumbas para sarcófagos que foram minuciosamente esculpidos pelo escultor Juan de Ávalos.

Em 2005, foi realizada a última grande reforma até o momento quando se inaugurou o “Mausoléu dos Amantes”, um espaço concebido pelo arquiteto Alejandro Cañada com várias salas expositivas bem como com os célebres sarcófagos, cujas mãos estão próximas, mas não chegam a se tocar, referenciando novamente ao seu amor impossível.

 

Origem das festividades

Mas como a “Lenda dos Amantes” evoluiu para o espetáculo anual que conhecemos hoje em dia? A semente desta ideia surgiu com Raquel Elvira Esteban, licenciada em Belas Artes pela Universidad Politécnica de Valencia e especialista em dança e indumentária medieval, além de outras titulações no campo das artes.

Natural de Teruel, Esteban teve um sonho em que imaginou uma festa aos moldes medievais que celebrasse as bodas de Isabel de Segura de maneira parecida com que lera anteriormente no poema épico Cantar de mio Cid. Após essa inspiração, Esteban buscou tornar este desejo em realidade ao desenvolver uma festividade que envolvesse grupos de teatro, bandas musicais, associações culturais, artesãos, entre outros participantes.

Este sonho, por fim, se concretizou em 1997 e em pouco tempo ganhou o carinho não somente dos locais como também de outros espanhóis seja pela sua história envolvente ou pela precisão histórica e riqueza de detalhes que contribuem para uma ambientação mais autêntica do período medieval espanhol. Pouco tempo depois, Las Bodas de Isabel de Segura recebeu uma série de reconhecimentos como o título de Fiesta de Interés Turístico de Aragón em 2007 e Fiesta de Interés Turístico Nacional em 2016.

Além disso, vale mencionar que Teruel faz parte da Associação “Europa Enamorada”, um conjunto de cidades-sedes de grandes histórias de amor e que revivem estes contos como meio para a promoção cultural e turística destas localidades.

 

Principais atrações

Las Bodas de Isabel de Segura acontecem anualmente na terceira semana de fevereiro, atualmente começando na quinta e se estendendo até domingo (em 2025, por exemplo, a festa ocorrerá entre 20 e 23 de fevereiro).

Para esta festividade, a joia da coroa é, sem sombra de dúvidas, a recriação teatral da lenda dos amantes, cujos atos se dividem ao longo dos dias no casco antiguo de Teruel. Além da peça, a cidade também se enche de mercados medievais que oferecem aos participantes tanto comida quanto artesanatos típicos. É também muito comum a apresentação de grupos musicais folclóricos e que não somente os atores, mas também os demais presentes estejam vestidos com trajes tipicamente medievais, o que ajuda a criar uma experiência mais imersiva. A festa ainda conta com uma série de exposições, concertos e concursos, bem como apresentações de cavaleiros, torneios de espadas e a cerimônia do toro nupcial.

Ficou curioso de saber como é todo esse cenário na vida real? Então, dá uma conferida no vídeo abaixo.

 

 

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Esperamos que tenha gostado do post de hoje e se encantado com a história dos “Amantes de Teruel”. Ficou com vontade de participar do evento ou visitar a cidade? Depois nos conte mais! Nos vemos na próxima semana!

 

¡Hasta luego!