Quase junto com as celebrações do Halloween, uma outra festa de ares igualmente sobrenaturais toma conta do calendário mexicano: o Dia dos Mortos, realizado anualmente entre 1 e 2 novembro e que celebra a visita dos finados ao mundo dos vivos.
De raízes pré-hispânicas, o Dia dos Mortos conseguiu se manter firme e forte na cultura mexicana mesmo depois da colonização espanhola e hoje em dia combina harmonicamente tanto rituais indígenas quanto católicos. Em 2008, o evento foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO e nos últimos anos vem atraindo a atenção de muitos brasileiros, que inclusive celebram a festividade em algumas cidades do país.
Dada esta grande popularidade, em 2023 trouxemos um post especial a respeito das principais características desta festa (se você não leu, é só clicar no link abaixo). Já para este ano, separamos cinco lendas que circulam entre os mexicanos durante esta época.
Algumas delas são histórias que falam de amor e ajuda de seres mágicos. Outras, por sua vez, são dignas de deixar o cabelo em pé! Se ficou curioso, então siga conosco para saber mais sobre estes relatos insólitos.
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A origem de cempasúchil
Você já ouviu falar da cempasúchil? Esta flor de coloração amarelo alaranjada é uma das imagens mais representativas do Dia dos Mortos e carrega a importante missão de guiar os falecidos até a residência de seus parentes vivos. Segundo os mexicanos, sua origem também está ligada a uma inspiradora história.
Conta-se que há muito tempo atrás, existiam duas crianças que desde o nascimento já eram bem próximos. A menina se chamava Xóchitl e o menino, Huitzilin. Com o passar dos anos, o carinho e amizade dos dois se desenvolveu em um verdadeiro amor.
Um dia, Xóchitl e Huitzilin decidiram subir ao alto de uma colina, pois era lá onde morava o deus Sol, Tonatiuh, e os amantes pretendiam pedir-lhe uma bênção para sua união. Tonatiuh, comovido com os jovens, atendeu ao pedido.
Por uma infelicidade do destino, os sonhos do casal foram abruptamente interrompidos após Huitzilin ter sido convocado para lutar a favor do seu povo e veio a falecer em combate. Ao saber da triste notícia, Xóchitl ficou inconsolável e implorou ao deus Sol que a levasse junto com seu amado.
Tonatiuh atendeu suas preces e transformou Xóchitl em uma linda flor que ainda naquele momento permaneceu com seu botão fechado. Entretanto, em um determinado dia um beija-flor foi atraído pelo aroma da intocada flor que finalmente se abriu quando o pássaro pousou sob suas folhas. Acontece que este beija-flor era justamente Huitzilin que reencontrou sua amada Xóchitl e os dois finalmente puderam cumprir sua promessa de ficarem juntos por toda a eternidade.
O homem que desafiou o Dia dos Mortos
Dizem que em uma cidade rural havia um homem que não acreditava nos ensinamentos passados através das gerações de que os parentes mortos visitavam os vivos no início de novembro. Justamente por isso, ele falava para todos à sua volta de que não perderia seu tempo comemorando o Dia de Finados e ao invés disso preferia ir ao campo para trabalhar e assim ele o fez.
Após algum tempo, este tal homem foi surpreendido com uma voz que chamava pelo seu nome e dizia: “Filho, filho, quero comer alguns tamales”. Achando se tratar da sua imaginação, já que estava sozinho no local, o homem retornou ao trabalho, mas em seguida ouviu mais vozes que conversavam entre si e também chamavam pelo seu nome.
Finalmente, o homem conseguiu distinguir as vozes e percebeu que eram de seus familiares já falecidos, entre eles, seus pais. Assustado com a descoberta, ele voltou correndo para casa e pediu para que sua mulher cozinhasse os tamales bem como outros quitutes para colocar no altar dos mortos como oferenda. Enquanto isso, ele se pôs a descansar um pouco.
Contudo, quando a esposa terminou tudo e foi chamá-lo, perceberam com assombro que aquele homem estava morto. Devido a esta lenda, muitos no México não se atrevem a desrespeitar as oferendas e as consideram um item obrigatório para a celebração do Dia dos Mortos.
O cão que guia os finados
Quem assistiu à animação da Disney/Pixar “Viva: A Vida é uma Festa”, com certeza se lembra de Dante, um simpático cãozinho pertencente a uma raça com um nome para lá de difícil: xoloitzcuintle (xolo ou pelado-mexicano como é mais conhecido no Brasil).
E você sabia que a escolha de um xolo como cão guia para o personagem Miguel não é mera aleatoriedade? Além de ser uma raça símbolo do México, ela era altamente reverenciada pelos povos astecas por uma série de motivos. Um deles se devia ao fato de que estes cachorros eram associados com Xolotl, deus da morte. Segundo, porque os astecas consideravam-nos os responsáveis por fazer a ponte entre o mundo dos vivos e o dos mortos. De acordo com a lenda, os xolos são os guardiões dos espíritos e por isso são incumbidos de transportá-los pelo caminho até Mictlán, a cidade dos mortos.
Nesta viagem, o ponto mais difícil era a travessia de um profundo e caudaloso rio que os falecidos só teriam sucesso com a ajuda dos xolos. Porém, havia uma condição. Se a pessoa foi boa em vida com os animais, especialmente com cachorros, o xolo a transportaria com prazer até o outro lado. Caso contrário, ele se recusaria a seguir adiante e a pessoa padeceria sem chance de terminar sua jornada.
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A casa da tia Toña
Partindo para algumas lendas mais recentes, esta é muito popular na Cidade do México e conta a história de Antonia, uma mulher muito rica que habitava uma mansão localizada em algum ponto remoto do grande parque Chapultepec. É dito que esta mulher não tinha nem família nem amigos com quem poderia compartilhar sua fortuna e seu dia a dia. Portanto, um dia decidiu realizar um grande gesto de altruísmo e permitiu que as crianças desabrigadas da região viessem morar em sua casa.
Apesar da intenção inicial ter sido genuína, conta-se que Antonia (ou tia Toña) foi aos poucos perdendo a sanidade e se tornando uma pessoa macabra, muito longe da mulher bondosa de outrora.
Em um dia qualquer, conta-se que Antonia surtou de uma hora para outra após presenciar alguma travessura. Enlouquecida pela raiva, tia Toña saiu correndo em direção às crianças que tentaram fugir, mas uma a uma foram capturadas e mortas pela mulher que ao final tirou a própria vida. Após o trágico incidente, moradores da capital relatam que o espírito de tia Toña ainda ronda a propriedade e pode inclusive atacar aqueles que tentarem chegar muito próximo dela.
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O túmulo de La Llorona
A Llorona é possivelmente a figura mais conhecida do folclore mexicano em todo o mundo. Esta lenda conta que La Llorona seria uma mulher que vivia feliz com seu marido e filhos, mas ao descobrir a traição do esposo foi tomada por um ataque de fúria que resultou no assassinato de seus filhos por afogamento. Quando se deu conta do que tinha feito, ela teria enlouquecido e sido condenada a vagar pelas noites à busca de suas crianças, chorando e lamentando sua perda.
Muitos acreditam que La Llorona não seja somente um espírito atormentado, mas também vingativo e que provoca medo pelos lugares onde passa. Dentre eles, a remota área rural entre as cidades de Dolores Hidalgo e San Luis de La Paz no estado mexicano de Guanajuato.
De acordo com relatos dos moradores, aparições de La Llorona eram tão comuns lá durante a segunda metade do século XIX que um padre foi convocado para benzer o local de modo a diminuir o pânico entre os habitantes. No entanto, conta-se que este sacerdote sugeriu a construção de um monumento para acalmar o tal espírito, já que somente as rezas não seriam suficientes.
Assim, os moradores da região construíram um pequeno monumento em 1913 que ficou conhecido como El Calvarito. Desde então, é dito que a região voltou a ter paz, o que fez com que aquele memorial fúnebre também ganhasse a alcunha de “o túmulo de La Llorona”. No vídeo abaixo, você pode conferir mais detalhes sobre este lugar que até hoje tem uma atmosfera bem sinistra.
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E você, conhecia alguma destas histórias? Qual tradição mexicana para o Dia dos Mortos te chama mais a atenção? Conte para nós!
Nos vemos em um próximo post.
¡Hasta luego!