No mês passado, nós trouxemos a primeira parte do mapa gastronômico da Espanha, apresentando uma seleção tanto de pratos doces quanto salgados que são característicos de cada uma das comunidades autônomas.
Assim sendo, hoje vamos dar continuidade à nossa lista de iguarias, sendo algumas raramente conhecidas pelos brasileiros, e uma delas que, em contrapartida, talvez seja a mais famosa de todas. Será que você adivinha de que prato estamos falando?
Portanto, confira a seguir a parte 2 do mapa gastronômico da Espanha continuando do último ponto que paramos.
Conteúdo relacionado: Mapa gastronômico da Espanha – parte 1
Islas Baleares: calderata de langosta
Dentre as ilhas Baleares, Menorca está entre as mais cobiçadas tanto por turistas nacionais quanto estrangeiros, sendo que tal popularidade se deve não somente às suas belas praias, mas também à sua deliciosa gastronomia, o que inclui a calderata de langosta.
Inicialmente consumido pelos pescadores da ilha, o prato foi conquistando a afeição das classes mais altas ao longo do século XX até que se “gourmetizou” para o modo como se conhece hoje em dia. O seu grande protagonista é, naturalmente, a lagosta vermelha típica da região, a qual é cozinhada em uma panela de barro. Além dela, outros elementos comuns que costumam ser adicionados são um refogado de legumes (alho, cebola, tomate e salsinha) e algumas fatias de pão.
Islas Canarias: papas arrugadas con mojo picón

Tamorlan via Wikimedia Commons
Estas ilhas vulcânicas no Oceano Atlântico têm como um dos seus grandes representantes as papas arrugadas, um prato simples, mas muito querido e que é normalmente servido com um molho picante chamado mojo picón.
Este prato é um produto direto do período da colonização, já que as primeiras batatas provinham da Cordilheira dos Andes, sendo trazidas mais tarde pelos espanhóis à Europa. Nas ilhas Canárias, especificamente, as batatas encontraram terreno e clima propícios para seu cultivo a ponto de que se desenvolveu variedades próprias da região, as mesmas hoje utilizadas para o seu prato típico.
As papas arrugadas levam este nome, pois as batatas são cozinhadas junto com a pele que adquirem um aspecto rugoso, enquanto seu interior continua macio. Já o mojo picón (também conhecido como mojo rojo) é uma combinação de ingredientes principalmente a base de pimenta, pimentão, alho e azeite de oliva.
La Rioja: fardelejo

Boca Dorada via Wikimedia Commons
Voltando para o continente, na pequena comunidade autônoma de La Rioja há uma sobremesa que há séculos encanta o paladar de seus habitantes e visitantes: o fardelejo.
Visualmente parecidos com os pastéis de feira do Brasil, os fardelejos se originaram na cidade de Arnedo mais ou menos entre os séculos IX e X, sendo derivados dos doces árabes. Consiste basicamente em uma massa folhada que é recheada com amêndoas raladas e que também leva açúcar e ovos em seu preparo. Além de serem muito apreciados como sobremesa, os fardelejos também são frequentemente consumidos durante o café da manhã.
Sugestão: Aceitadas zamoranas para a Semana Santa
Madrid: callos a la madrileña
Apesar de ser uma cidade bastante cosmopolita, a capital espanhola sabe igualmente preservar suas raízes através de seus pratos típicos como é o caso do callos a la madrileña, receita existente desde o final do século XVI e cujo nome gera curiosidade inclusive entre os espanhóis.
A palavra “callos” faz referência a pedaços do estômago de vaca ou de carneiro. Na prática, o callos a la madrileña é um guisado bem encorpado, próprio para o inverno, o qual é servido em uma travessa de barro acompanhado de jamón, chorizo ou morcilla, além, é claro, da presença onipresente do pão.
Murcia: zarangollo murciano

Tamorlan via Wikimedia Commons
A comunidade autônoma de Murcia orgulhosamente estampa em seu cardápio regional uma receita que alia simplicidade e sabor: o zarangollo murciano.
Embora não exista uma clareza quanto ao seu surgimento, uma das principais correntes defende que o prato tem origem nas tradições gastronômicas dos judeus sefarditas que habitavam a Península Ibérica durante o período da Reconquista.
A receita original é, em poucas palavras, um remexido de legumes, sendo feito principalmente de abobrinha e cebola, embora a berinjela também possa ser acrescentada. Vale mencionar que atualmente há uma variação muito popular desta iguaria que inclui batatas entre os seus ingredientes.
Veja também: Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita
Navarra: cuajada a la navarra

Juan Mejuto via Wikimedia Commons
Para quem curte doces e ainda quer manter a saúde em dia, a cuajada a la navarra é, sem dúvidas, a escolha certa. Pesquisas recentes apontam que este alimento já era (acredite ou não!) consumido desde a Pré-História, sendo que o Valle de Ultzama ao norte de Pamplona é considerado o berço mais provável deste manjar.
Feito a partir do leite de ovelhas e de um fermento natural chamado cuajo, os pastores de Ultzama ainda se valem do método mais tradicional para a preparação deste prato. Com o auxílio do kaiku, um utensílio típico de madeira, eles ordenham o leite da ovelha e em seguida adicionam, por um breve período, uma pedra quente para realizar o processo de fervura, o que muitos especialistas afirmam ser o segredo para seu sabor inconfundível. Para finalizar, é comum que se acrescente um filete de mel a esta deliciosa sobremesa que também é rica em cálcio e vitaminas A, B e D.
No vídeo abaixo, você pode conferir uma das formas mais tradicionais de se preparar a cuajada a la navarra diretamente do Valle de Ultzama:
País Vasco: pastel vasco

Jvillafruela via Wikimedia Commons
O País Vasco também é lar de um doce muito apreciado tanto pela população local quanto pelos turistas, sendo conhecido por muitos nomes como pastel vasco, gâteau basque, etxeko biskotxa ou euskal pastela.
Sua história é um tanto nebulosa, mas algumas vertentes acreditam que a raiz da sobremesa remonta à Idade Média e mais precisamente à região francesa de Lapurdi (lembrando que historicamente o povo basco sempre esteve presente nas regiões fronteiriças entre Espanha e França).
Feito a partir da manteiga, farinha, ovos e açúcar, trata-se de uma torta em formato redondo de exterior crocante e interior macio. Durante o período medieval, o pastel vasco não tinha recheio, sendo incorporado somente séculos depois. Atualmente, é comum recheios como geleia de frutas vermelhas, chocolate e amêndoas, embora o mais tradicional na região basca espanhola ainda seja o de creme.
Valencia: paella valenciana

Sandra Wei via Unsplash
Enfim chegamos ao prato espanhol que provavelmente seja o mais famoso entre os brasileiros e também ao redor do mundo. Quando alguém pede para pensar na gastronomia da Espanha, provavelmente a imagem da paella valenciana é a primeira que salta à mente. Porém, você conhece a história deste prato tão icônico?
De acordo com os historiadores, a paella surgiu na região rural de Valência em torno dos séculos XV e XVI, graças aos agricultores locais que precisaram criar um prato fácil, rápido e com os ingredientes que tivessem à disposição. Para isso, utilizaram uma variedade específica de arroz (arroz de albufera), cultivado em lagoa costeira de baixa profundidade. Cozinhando em uma grande frigideira, adicionam-se à paella uma série de acompanhamentos, sendo que os mais tradicionais são açafrão, azeite de oliva, tomate, feijão garrofó (“Garrofón Valenciano”), coelho e frango.
Bônus: Ceuta e Melilla

El Mono Español via Wikimedia Commons
E para finalizar, vamos mostrar um prato bem popular nos enclaves de Ceuta e Melilla, ambos localizados no norte da África e na fronteira com o Marrocos.
Dado a sua maior proximidade com a cultura árabe, a gastronomia local também reflete este intercâmbio cultural. Por isso, um doce muito apreciado em ambas as cidades são as chuparquías (sh’bakía em árabe), iguaria típica da região do Magreb e que possui um delicado formato, o qual se assemelha a uma flor.
Seus ingredientes principais são amêndoas, mel, gergelim, canela e água-de-flor-de-laranjeira (ou água de azahar), sendo que, para os muçulmanos, este doce é comumente consumido durante as celebrações do Ramadan.
___________
Esperamos que tenha gostado desta parte 2 e aprofundado seus conhecimentos sobre a gastronomia espanhola.
De tudo o que mostramos, qual prato chamou mais sua atenção? Tem algum que você quer reproduzir ou já reproduziu na sua casa? Depois nos conte mais!
¡Un abrazo fuerte!