Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita | Cultura Espanhola
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Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita

Na semana passada, nós seguimos com a série sobre os hispanofalantes e finalmente chegamos ao berço do idioma castelhano! Sendo assim, para este mês o blog resolveu fazer um especial sobre a cultura e história da Espanha, trazendo informações e curiosidades muitas vezes desconhecidas do grande público.

E é justamente o caso do tema de hoje!

Como demonstrado no post anterior, a Espanha é um país multicultural, tendo recebido ao longo de sua história uma série de povos de diferentes etnias e credos que chamaram aquela região de lar.

Alguns destes grupos são mais conhecidos como os mouros e gitanos cujas raízes culturais são mais representativas nas comunidades autônomas do sul, enquanto a origem celta é fortemente valorizada no noroeste do país. No entanto, a presença judaica na Espanha frequentemente passa despercebida das principais rotas turísticas, embora ela tenha sido igualmente influente bem como responsável por apresentar ao mundo figuras icônicas do pensamento judaico que até hoje são lembradas.

Por isso, no post de hoje vamos desvendar mais sobre essa parte pouco falada da história espanhola e adentrar nos Caminhos de Sefarad!

 

Sugestão: Os hispanofalantes: Espanha

 

Breve história dos judeus sefarditas

O registro de comunidades judaicas na Península Ibérica é bem mais antigo do que se pode imaginar a um primeiro momento. De acordo com descobertas arqueológicas, há sinais de que o povo judeu estava presente naquela região pelo menos desde o século I a.C., embora alguns argumentem que sua chegada tenha sido ainda mais cedo.

Instalando-se na Hispania dos tempos romanos, as fontes hebraicas a chamam pelo nome de “Sefarad” e, portanto, a comunidade judaica lá residente passou a ser chamada de sefardita. Vale pontuar, contudo, que hoje em dia o termo “sefardita” não pode ser levado ao pé da letra para se referir unicamente àqueles provenientes da Península Ibérica e seus descendentes. Para mais informações, recomendamos ver este vídeo aqui.

Voltando à parte histórica, os sefarditas viveram e prosperaram na Espanha durante séculos, trazendo grandes inovações para o pensamento judaico e formando escolas filosóficas renomadas, cujos representantes são influentes até os dias atuais.

Alguns exemplos são Moshe ben Shem-Tov (Moshé de León), autor do Zohar, um dos principais textos da mística judaica conhecida como Cabala, Maimônides (igualmente chamado de Rambam), uma das principais autoridades no estudo da Torá e Abraham ibne Meir ibne Esdras (ou Abenezra), importante rabino que também se dedicou ao estudo da astronomia e matemática.

Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita

Sagie Maoz via Wikimedia Commons

Entretanto, a vida dos judeus sefarditas mudaria drasticamente com o reinado de Fernando de Aragão e Isabel de Castela. Em 1492, os reis católicos determinaram que todos os judeus na Espanha (algo em torno de 200 mil, segundo estudiosos) deveriam se converter ao cristianismo ou seriam expulsos do país.

O resultado foi que, de fato, ocorreram algumas conversões forçadas (casos estes em que as pessoas se tornaram “cristãos novos”). Porém, muitos se negaram a abandonar sua identidade e sua fé e se refugiaram em outras partes do mundo.

Uma reparação histórica para com a comunidade sefardita só viria a acontecer em 2015 quando o governo espanhol anunciou a concessão de nacionalidade a todos os sefarditas cujos ancestrais eram provenientes da Espanha (Ley 12/2015). Atualmente, há aproximadamente 40 mil judeus vivendo no país.

 

Veja também: Costa a Costa: conheça os litorais mais populares da Espanha

 

Caminos de Sefarad

Com o intuito de preservar a memória e cultura judaico-espanhola, governantes de diferentes cidades criaram em 1995 a Red de Juderías de España: Caminos de Sefarad. Atualmente contando com um pouco mais de 20 municípios, estas localidades guardam em seu centro histórico a herança sefardita que se traduz em seu patrimônio arquitetônico, histórico, cultural, ambiental e gastronômico.

Suas principais atividades giram em torno justamente da preservação e resgate do legado sefardita espanhol, promovendo desde o turismo e projetos culturais, até encontros acadêmicos e intercâmbios.

Até abril de 2024, fazia parte da organização as seguintes cidades: Ávila, Barcelona, Béjar, Cáceres, Calahorra, Córdoba, Estella-Lizarra, Hervás, Jaén, León, Lorca, Lucena, Monforte de Lemos, Plasencia, Ribadavia, Sagunto, Segovia, Tarazona, Toledo, Tudela e Tui. A seguir, vamos ver algumas delas e suas principais atrações dentro deste programa.

 

Ávila

Apesar de muitas construções deste período terem se perdido, a cidade de Ávila mantém registros antigos que indicam certos locais ainda existentes onde as atividades da comunidade eram frequentes, entre elas, a Plaza del Mercado Chico e a rua Vallespín, tradicional ponto de comércio sefardita.

Dentre os monumentos, se sobressaem o Jardín de Moshé de León, um belo espaço verde que homenageia o grande rabino autor do Zohar, e a Puerta de La Malaventura, parte da Muralha de Ávila e onde a tradição diz que os judeus expulsos tiveram que passar rumo ao exílio.

 

Córdoba

As pesquisas históricas mais recentes defendem que a comunidade judaica estava instalada em Córdoba desde o século I a.C. durante o domínio romano, mantendo-se presente de maneira influente inclusive durante o reinado de Al-Andalus. Até hoje, suas marcas na cidade são notáveis, sendo um dos lugares onde mais se preserva a herança sefardita.

Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita

José Luiz Bernardes Ribeiro via Wikimedia Commons

Atravessando a Puerta de Almodóvar, os visitantes têm acesso ao bairro judeu (judería) de Córdoba, onde ainda é possível encontrar construções tipicamente sefarditas. Um dos seus principais cartões-postais é a sinagoga da cidade, edificada entre 1314 e 1315 em estilo mudéjar, além da Plaza de Maimónides e a Plaza de Tiberiades, sendo que nesta última há uma linda estátua do célebre pensador Maimônides que nasceu em terras cordobenses.

Para quem quer conhecer a história mais a fundo, dois museus são as escolhas certas: a Casa Sefarad, cuja estrutura continua bem preservada como era no século XIV, bem como o Museu Arqueológico da cidade. Na agenda cultural, Córdoba também oferece um leque de opções de entretenimento com o “Otoño Sefardí” e o “Festival Internacional de Música Sefardita”.

 

Conteúdo relacionado: Festival dos Pátios de Córdoba

 

Segóvia

Uma das primeiras paradas quando se visita Segóvia, é visitar a antiga Sinagoga Mayor, a qual, embora não desempenhe mais a função original já que se tornou a Igreja de Corpus Christi, ainda mantém a arquitetura sefardita do século XIII.

Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita

Coriplus via Wikimedia Commons

Outros locais interessantes que merecem ser conhecidos são a Casa de Samuel Dean e a Casa de Abraham Seneor, esta última é onde abriga o Centro Didáctico de la Judería que traz vários informações interessantes sobre o passado sefardita em Segóvia. Após a Puerta de San Andrés, outro ponto icônico da cidade é o cemitério judeu que conseguiu preservar as características da época em que foi construído.

 

Toledo

Juntamente com Córdoba, Toledo é um dos locais onde a comunidade sefardita mais prosperou na Espanha, sendo que seus sinais podem ser vistos a todo momento no centro histórico que convida os visitantes a mergulhar no seu passado esplendoroso.

Duas sinagogas são parada obrigatória quando estiver em Toledo. A primeira é a Sinagoga de Samuel Ha-Levi, também chamada de Sinagoga del Tránsito. Construída entre 1355 e 1357, o espaço agora hospeda o Museo Sefardí e é considerado por muitos como o templo judeu medieval mais lindo de toda a Europa, além de ser de longe o mais bem preservado. A segunda é a Sinagoga de Santa María la Blanca do século XII que, assim como em Segóvia, passou para a posse dos cristãos, mas ainda manteve sua estrutura típica ao estilo mudéjar.

Caminos de Sefarad: a Espanha sefardita

kurtxio via Wikimedia Commons

Também vale a pena visitar os antigos bairros pertencentes à judería de Toledo como Alcava, Arriaza, Assuica, Montichel e Mamanzeite. Por último, mas definitivamente não menos importante, não se pode deixar de apreciar a Casa del Judío, residência de Samuel Ha-Levi (o mesmo que esteve à frente do projeto para a construção da Sinagoga del Tránsito), cuja boa conservação permite aos visitantes terem uma visão de como eram as casas sefarditas daquele período.

 

Se você se interessou, abaixo você pode conferir um vídeo produzir pela Red de Juderías de España e conferir um pouquinho desta rota tão encantadora!

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E você, já tinha ouvido falar do legado sefardita na Espanha? Ficou interessado em conhecer algum destes lugares? Depois nos conte mais!

 

Até o próximo post!

 

¡Hasta luego!

Esther Fuentes
Esther Fuentes