Padre Fortea: O Exorcista da Espanha | Cultura Espanhola
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Padre Fortea: O Exorcista da Espanha

Seguindo a nossa programação especial de Halloween, hoje vamos falar sobre um tema recorrente nos filmes de terror hollywoodianos: o exorcismo. Contudo, diferentemente do que ocorre nas telas de cinema, o verdadeiro ritual de exorcismo, segundo seus especialistas, se desenrola de maneira bem menos espalhafatosa do que se vê nas produções cinematográficas, mas nem por isso deixa de ser sombrio e assustador.

Como a tradição católica determina uma série de regras para sua execução, poucos sacerdotes são autorizados pelo Vaticano a levar esta prática a cabo. A Espanha detém alguns destes padres exorcistas, porém nenhum deles é mais conhecido que José Fortea, famoso pelo exorcismo referido como “caso Marta” e que atraiu grande repercussão internacional.

Assim, no post de hoje vamos falar um pouco mais sobre o padre Fortea, o exorcismo na Igreja Católica bem como sobre o caso Marta em particular.

 

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Exorcismo: origem e características

Apesar de ser frequentemente vinculado ao cristianismo católico, o exorcismo, na realidade, é uma técnica aplicada há milênios também por outras vertentes religiosas. Aliás, um dos registros mais antigos a respeito de uma prática que busca a “expulsão de demônios ou espíritos malignos” das pessoas remonta desde a antiga Mesopotâmia.

Entre os católicos, o exorcismo foi incorporado ao seu dogma desde os seus primeiros anos de fundação. Entretanto, um compilado mais robusto sobre seus preceitos e regras que servisse como guia aos seus sacerdotes só foi estabelecido em 1614, o qual, por sua vez, permaneceu quase inalterado até a revisão mais moderna que ocorreu em 1999.

Padre Fortea: O Exorcista da Espanha

Jacob Bentzinger via Unsplash

Efetivamente, pouca coisa mudou entre ambas as versões. Porém, tendo em vista as críticas ao longo dos anos, inclusive dentro do próprio clero, uma das principais distinções é a recomendação de que o exorcismo seja utilizado como último recurso, depois que o sacerdote devidamente instituído pela Igreja tiver esgotado todas as outras opções como, por exemplo, ter verificado junto a um médico se o indivíduo potencialmente possuído, na verdade, é portador de algum distúrbio psiquiátrico. Caso estas alternativas sejam devidamente descartadas e ainda assim o sacerdote encontre fortes indícios de possessão demoníaca, então o exorcismo é oficialmente autorizado.

Para isto, ele pode se valer de dois ritos: o romano, sendo este o ritual original, ou a versão mais moderna de 1999. Ao contrário do que vemos nos filmes, os ritos de exorcismo não são performances carregadas de efeitos especiais, mas sim uma série de orações cuidadosamente planejadas e com o objetivo de clamar a autoridade de Deus e de Jesus Cristo para expulsar uma manifestação demoníaca.

E como é possível perceber os sinais de possessão em uma pessoa? De acordo com a Igreja Católica, o possuído normalmente apresenta uma ou mais destas características:

  • Habilidade de falar ou entender idiomas que a pessoa em si desconhece
  • Força acima da sua capacidade
  • Conhecimento de informações ocultas ou escondidas
  • Aversão à menção de Deus, Jesus Cristo, da Virgem Maria ou dos santos católicos bem como a objetos sagrados como crucifixos ou água benta

 

Controvérsias

Embora o exorcismo seja um ritual consolidado há séculos no catolicismo, ele não é livre de polêmicas. De fato, a prática já esteve no centro de diversas acusações, seja por ter sido usada como instrumento de subjugação, conversão forçada e vilanização a outras religiões no período da Idade Média ou por ter sido apontada como a principal causa de negligência a pessoas que padeciam de uma doença psiquiátrica e vieram a óbito por não terem tido acesso ao tratamento adequado.

Padre Fortea: O Exorcista da Espanha

Web Gallery of Art via Wikimedia Commons

Além disso, alguns intelectuais e/ou céticos argumentam que o exorcismo se baseia em uma crença arcaica sem comprovação científica. Outros, por outro lado, defendem sua existência e dizem que, apesar de não ser tão comum quanto se pensa, a possessão demoníaca é um fato que pode ser comprovado com exemplos vivos de pessoas que passaram por esta experiência. Um destes defensores é o padre Fortea.

 

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Conhecendo o padre Fortea

José Antonio Fortea Cucurull nasceu em Barbastro (comunidade autônoma de Aragão) em 11 de outubro de 1968. Durante a adolescência já manifestou seu desejo em seguir a vida sacerdotal, obtendo um bacharel em Teologia e posteriormente um mestrado na mesma área. Para sua tese de licenciatura, especializou-se em exorcismo através da pesquisa “Exorcismo na Era Atual”. A partir destas investigações, Fortea publicou a obra “Daemoniacum”, responsável por torná-lo famoso em toda a Espanha. Algum tempo depois, lançou outro trabalho de grande impacto: “Summa Daemoniaca”.

Padre Fortea: O Exorcista da Espanha

Christian Falch via Wikimedia Commons

Apesar de não exercer mais a função de exorcista, Fortea ainda é o principal nome da Espanha neste ramo sendo conhecido por sua atuação em alguns dos casos mais emblemáticos do país. Hoje em dia, está mais focado na produção de livros e no trabalho sacerdotal tradicional junto à diocese de Alcalá de Henares.

 

O caso Marta

Definitivamente o exorcismo mais famoso da Espanha, sendo validado como real pelo próprio Vaticano e, justamente por isso, atraindo atenção não somente da mídia espanhola, mas também mundial.

De acordo com testemunhos colhidos por jornalistas, inclusive do próprio padre Fortea, Marta (nome fictício) contava com 16 anos em 2001 quando deu entrada no hospital de sua cidade com fortes dores e convulsões. Depois de alguns dias internada, a jovem recebeu alta.

No entanto, a partir daquele momento, coisas estranhas começaram a acontecer na casa onde moravam ela e sua mãe Maria (nome também fictício). Não somente o quadro de saúde de Marta piorou consideravelmente como sua mãe igualmente passou a presenciar fenômenos inexplicáveis como móveis se mexendo, objetos se quebrando e até uma vez em que viu sua filha flutuando da cama.

Diante de um cenário apavorante como este, Maria recorreu à ajuda espiritual, encontrando no padre Fortea um amparo para a tribulação sua e da filha. Porém, a estrada rumo ao fim do tormento de Marta não seria nada fácil. Foram necessários 7 anos para que o exorcismo fosse devidamente completado. Segundo o padre, a causa mais provável foi uma colega escolar de Marta que teria lançado um feitiço contra a menina, a qual fora vítima não de 1, mas de 7 demônios. Para seis deles, Fortea teria sido capaz de expulsá-los em um prazo de alguns meses. Contudo, o último e mais forte, teria mantido Marta sob este tormento por anos.

Padre Fortea: O Exorcista da Espanha

Isabella Fischer via Unsplash

Como registrado por dois jornalistas que participaram de uma das sessões, Marta possuía várias das características geralmente atribuídas à possessão demoníaca como aversão a objetos sagrados e fala com uma voz gutural que claramente não correspondia ao timbre natural da jovem. As evidências se mostraram tão palpáveis que até mesmo estes jornalistas, inicialmente céticos, acreditaram no que viram.

Finalmente, de acordo com o padre Fortea, após sete anos ininterruptos Marta se libertou dos espíritos malignos e hoje em dia vive uma vida normal e tranquila. Contudo, mesmo com o reconhecimento do Vaticano e o relato dos jornalistas, ainda há aqueles que não creem que o caso tenha ocorrido desta maneira e mantém o argumento de que provavelmente Marta sofria de algum distúrbio psiquiátrico.

 

Já que está aqui: Os hispanofalantes: Colômbia

 

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E você, no que acredita? Conhecia esta história tão incrível e ao mesmo tempo tão assustadora?

Nos vemos na próxima semana quando exploraremos mais sobre a temática de Halloween no blog da Cultura Espanhola.

 

¡Hasta luego!

Esther Fuentes
Esther Fuentes

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