Dezembro está entre os meses favoritos do ano para muitas pessoas ao redor do planeta, seja porque poderão tirar uns bons dias de férias ou por causa das comemorações em torno do Natal. De fato, o período natalino esbanja um brilho único não somente pelas luzes que decoram a paisagem, mas também por toda a atmosfera mágica desta festividade tão querida.
Aqui no Brasil, para quem não segue os ritos cristãos, a figura mais característica do Natal é o Papai Noel, o bom velhinho de gorro e trajes vermelhos que viaja do Polo Norte para todos os cantos do mundo em seu trenó voador e distribui presentes para crianças ansiosas por sua presença. Como já mencionamos em um texto passado, os Reis Magos são tipicamente os benfeitores mais associados a esta tarefa para as crianças espanholas, embora nos últimos anos a popularidade do Papai Noel tenha crescido.
Talvez, justamente por isso, exista um interesse cada vez maior por preservar e resgatar personagens do folclore espanhol que também fazem parte deste período de festas e cujas raízes são mais antigas que a chegada do próprio cristianismo no país. Assim, no post de hoje vamos conhecer mais sobre estes seres mágicos e como eles proporcionam alegria e sorrisos aos pequenos da Espanha.
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El Olentzero
No País Basco e em Navarra, existe outro velhinho muito popular entre as crianças durante o mês de dezembro. Trata-se do Olentzero, um carvoeiro de barba branca e muito brincalhão que é responsável por dar presentes a elas entre os dias 24 e 25 de dezembro. Melhor dizendo, isto acontece com aqueles que se comportaram bem ao longo do ano porque para as crianças malcriadas o Olentzero só deixa mesmo um pedaço de carvão.
Além disso, é costume que as representações do Olentzero o mostrem vestindo roupas sujas e amarrotadas. Pode parecer que seja meramente por conta da natureza do seu ofício, mas a explicação é bem mais profunda. Na verdade, o Olentzero também seria uma alusão ao ano velho que estamos nos despedindo e que logo irá partir para que outro ocupe seu lugar. Neste sentido, o Olentzero pode ser considerado como um símbolo de renovação, filosofia esta também associada ao modo como as sociedades europeias pré-cristãs consideravam a época do solstício de inverno.
El Apalpador
Esta figura mitológica de nome um tanto engraçado para nós brasileiros vem lá da Galicia. Conhecido também como Pandigueiro, ele seria mais um carvoeiro barbudo, corpulento e que, por vezes, é representado até mesmo como se fosse um gigante.
As principais histórias a respeito do Apalpador vêm da região de Lugo e a tradição conta que anualmente ele desce de sua morada no alto das montanhas e visita as crianças galegas na noite do dia 25 ou 31 de dezembro, a depender da versão de cada família. Nesta ocasião, a entidade tocaria na barriga das crianças (daí o significado de seu nome) e conseguiria saber se elas se alimentaram de forma correta ao longo do ano ou não. Em caso positivo, o Apalpador/Pandigueiro deixa de presente algumas castanhas e/ou um pequeno regalo. Caso contrário, a criança só receberá carvão, assim como faz o Olentzero.
L’Anguleru
A história do L’Anguleru é bem mais recente, já que foi uma tentativa da Asociación Garabuxada em San Juan de la Arena (Astúrias) de promover a mitologia local e ao mesmo tempo homenagear os pescadores desta cidadezinha litorânea que está aproximadamente a 50km da capital da comunidade, Oviedo.
Assim, em 2008 o L’Anguleru, ou o Papai Noel asturiano, surgiu. Porém, diferente dos demais, não se trata de um morador do Polo Norte que viaja em seu trenó nem de um carvoeiro, mas sim de um pescador de angula (espécie de enguia europeia). Possui uma barba espessa, gorro azul escuro e roupas impermeáveis amarelas tipicamente usadas por pescadores de regiões frias.
Todo começo de dezembro, L’Anguleru volta do Mar dos Sargaços no Atlântico Norte para as Astúrias e percorre cada canto da comunidade, presenteando as crianças ao longo da época de Natal, antes de finalmente retornar ao mar. Para auxiliá-lo nesta tarefa, L’Anguleru também conta com a ajuda dos Llendadores e Llendadoras, homens e mulheres que se comprometem a promover o Natal asturiano e suas tradições, incluindo a língua asturiana.
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El Esteru
Já na região da Cantábria, juntamente com os Reis Magos no dia 6 de janeiro as crianças da comunidade recebem a visita de alguém muito especial: El Esteru, um lenhador grande e forte, de barba branca que veste uma boina preta e usa um cachimbo. Ao seu lado, El Esteru está sempre acompanhado de seu burrinho de estimação, o qual, além de auxiliá-lo durante o trabalho regular, ajuda o lenhador a distribuir presentes para as crianças cantábricas, cujos brinquedos são fabricados pelo próprio Esteru.
Popularizado na comunidade autônoma a partir dos anos 2000, El Esteru é um personagem bonachão que simboliza a bondade e alegria e ocupa um lugar de honra durante as Cabalgatas de Reyes da Cantábria.
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El Tío de Nadal
Por fim, na Catalunha e em Aragão as festividades natalinas não estão completas sem a presença do Tío de Nadal. Porém, ao contrário dos demais personagens citados, esta figura tão importante para o Natal catalão e aragonês não é uma pessoa, mas sim um pedaço de madeira.
O que acontece é que “Tío de Nadal” pode ser traduzido como “tronco de Natal” e sua base remonta a antigas tradições pagãs que honravam o solstício de inverno. Nesta época, era costume que uma lenha fosse reservada para ser queimada durante esta data, sendo este tanto um jeito de homenagear a natureza quanto reverenciar as mudanças de estações.
Esta prática foi adaptada e atualizada para os tempos modernos e hoje o “Tío de Nadal” caracteriza-se por um tronco com um simpático rosto desenhado e que leva consigo apoios de madeira que servem como braços bem como um gorro tipicamente catalão (barretina) e uma manta para que não passe frio. Durante todo o mês de dezembro, o Tío é “alimentado” e quando chega a véspera de Natal as crianças entoam cânticos e batem com gravetos nele na esperança de que ele solte doces pela sua parte traseira que está coberta com a manta.
Na virada do dia 24 para o dia 25, as crianças são sempre surpreendidas com diversos docinhos sendo os mais populares turrones, barquillos e outras guloseimas.
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Esperamos que tenha gostado do post de hoje e se interessado por conhecer mais sobre o rico folclore espanhol. Nos vemos na próxima semana!
¡Hasta luego!