Normalmente, nós trazemos uma vez por mês uma receita típica espanhola ou latino-americana aqui no blog e contamos algumas curiosidades a respeito dela bem como seu modo de preparo, não é? Contudo, dessa vez resolvemos seguir por uma proposta um pouquinho diferente.
Assim, ao invés de apresentarmos uma receita, nós trouxemos um mapa gastronômico da Espanha contendo um representante ilustre de cada uma das comunidades autônomas bem como algumas informações interessantes sobre eles.
Naturalmente, a gastronomia espanhola é muito mais diversificada do que vamos apresentar, mas esperamos que goste deste pequeno panorama geral (composto por pratos salgados e doces) e, quem sabe, te anime a recriar uma ou mais destas delícias!
Ah, e lembrando que esta é a parte 1! Em breve, traremos a continuação em um segundo texto.
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Andalucía: gazpacho
Este é um dos pratos mais conhecidos da gastronomia espanhola, sendo uma boa alternativa como uma comida saudável para o verão. De origem humilde, o gazpacho era originalmente consumido por camponeses, soldados e pastores.
Inicialmente, tratava-se tão somente de uma sopa feita com água, azeite, vinagre e pão. O tomate, estrela principal do prato, só integrou o gazpacho a partir das Grandes Navegações, já que este fruto é originário do continente americano.
Aragón: castañas de mazapán
Doce muito popular da província de Huesca e feito de forma artesanal desde o século XIX, as castañas de mazapán simulam o formato do que conhecemos no Brasil como castanhas portuguesas, mas, na realidade, não levam esta oleaginosa na receita.
O principal ingrediente deste prato, por outro lado, é o marzipan (pasta doce feita com amêndoas) que é moldado para se assemelhar à castanha e em seguida é embebida em uma mistura de caramelo e chocolate que lhe dá uma aparência delicada e refinada.
Se você ficou curioso para ver o resultado final, dá uma olhadinha no vídeo abaixo. Garantimos que é de dar água na boca!
Asturias: arroz con leche
Esta sobremesa traz algumas semelhanças com o arroz doce que conhecemos no Brasil e é um dos queridinhos principalmente durante as festas juninas. Apesar disto, o Principado das Asturias tem uma maneira bem tradicional de elaborar este prato, o que o diferencia de outras versões encontradas mundo afora.
Assim, os destaques do arroz con leche asturiano, cuja origem mais antiga data do século XVII, são o tempo de cozimento que pode levar de 1 a 2 horas e meia bem como o processo de queimar o açúcar por cima de modo que fique semelhante ao que ocorre com o crème brulée francês.
Cantabria: cocido montañés
Partindo para a comunidade vizinha, o cocido montañés é um prato salgado estrategicamente criado para enfrentar o rigoroso frio das montanhas da Cantábria.
Trata-se de um guisado composto por feijões brancos e berza (vegetal típico da região) que se cozinha junto com uma variedade de cortes de carne, em especial, o chorizo, a morcilla, o toucinho e a costela. É um prato bem reforçado e que com certeza também pode ser reproduzido no Brasil para enfrentar os dias mais intensos de inverno.
Castilla-La Mancha: duelos y quebrantos
Nas terras de Dom Quixote, até os pratos tem nomes que parecem ter saído dos romances de cavalaria. E, de fato, este distinto representante chamado duelos y quebrantos foi mencionado na obra de Cervantes (além de estar em outros clássicos da literatura espanhola escritos por Lope de Vega e Calderón de la Barca).
O prato é bem simples, sendo preparado a partir de uma mistura de ovos mexidos, cebola, alho, chorizo e toucinho e pode ser encontrado com facilidade ao longo de toda a região como, por exemplo, em restaurantes da Rota de Dom Quixote que falamos no post passado.
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Castilla y León: lechazo asado
Originário de Castilla y León, embora também seja muito popular nas Asturias, a receita original do lechazo asado necessita somente de um cordeiro de boa qualidade que será temperado com água e sal e posteriormente colocado em um forno à lenha para ser assado. Atualmente, é possível incluir outros ingredientes como salsinha, alecrim, manteiga e azeite de oliva. Em todo caso, a complexidade do prato não está na sua composição, mas sim em encontrar o ponto certo da carne.
Há registros que o lechazo asado está na região desde o período de ocupação romana, sendo consumido principalmente pela realeza local. Nos dias atuais, há um movimento em Castilla y León para incluir o lechazo asado como “Bien de interés cultural”.
Cataluña: calçots con salsa romesco
Os calçots são uma variedade de cebola de porte mais alongado, macia e de sabor adocicado que goza de grande popularidade na Catalunha. Alguns estudos mostram que o hábito de comer calçots já ocorria desde a época dos antigos romanos, apesar de que a difusão entre os catalães propriamente dita se deu graças a um camponês chamado Xat de Benaiges.
Nos dias atuais, os calçots são consumidos com frequência e há inclusive festivais apenas para homenageá-lo. Seu preparo é muito fácil. Basta grelhar os calçots junto ao fogo e consumi-los com molho romesco (feito a partir da mistura de amêndoas, tomates e pimentões).
Extremadura: migas extremeñas
Com um nome bem curioso, as migas extremeñas são um dos pratos mais típicos de Extremadura, o qual conta com uma variedade de versões para explicar sua origem. Entretanto, uma das interpretações mais defendidas é que as migas seriam a comida de pastores da região que passavam os dias nas serras e tinham à sua disposição somente pão duro para comer.
Assim, eles misturavam este alimento no caldeirão junto a outros ingredientes que tivessem à mão, o que, posteriormente, evoluiu para o prato como se conhece hoje em dia. Além do pão picado, as migas levam também água, azeite, sal, pimentão e alho, podendo ser complementado com chorizo ou pancetta.
Galicia: tarta de Santiago
Embora a origem desta sobremesa seja incerta, é um fato que a torta de Santiago está intimamente ligada ao famoso caminho de peregrinação que leva o mesmo nome.
Sendo servido ao longo das rotas até Compostela, o doce é feito com amêndoas moídas, ovos, açúcar, limão ralado e, na receita mais tradicional, farinha. Sua primeira aparição nos registros históricos data de 1577 quando ainda era chamada de Torta Real, sendo que a atual denominação só passou a existir depois de 1838.
Já o formato da Cruz de Santiago, tão característico da torta galega, se popularizou a partir de 1924 graças José Mora Soto, fundador da padaria Casa Mora em Santiago de Compostela (atual Pastelería Mercedes Mora).
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Esperamos que tenha gostado do post de hoje e conhecido mais sobre a gastronomia espanhola.
Qual desses pratos você ficou com vontade de reproduzir na sua casa?
Fique de olho, pois em breve vamos postar a parte 2! Até lá!
¡Un abrazo fuerte!