Caminho de Santiago: história e curiosidades | Cultura Espanhola
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Caminho de Santiago: história e curiosidades

Como já falamos em outros posts do blog, o turismo na Espanha é muito diversificado. Como consequência, os visitantes têm à sua disposição uma gama quase infinita de opções para preencher seu itinerário que pode incluir desde cidades cosmopolitas, praias exuberantes ou tranquilos pueblos.

Dentre as possíveis categorias dentro desta indústria, uma que detém forte influência no país é definitivamente o turismo religioso, cujo maior exemplo são as celebrações em torno da Semana Santa. Entretanto, esta solenidade não é nem de longe a única representante da lista, uma vez que sua popularidade é igualada por outro membro ilustre deste grupo: o Caminho de Santiago de Compostela.

Cercado de lendas, tradições, histórias e muita fé, esta rota que vai até o extremo norte da Península Ibérica atrai anualmente milhares de peregrinos de todos os cantos do planeta os quais, seja por motivos religiosos ou aventureiros, percorrem vários quilômetros para chegar ao ápice mais desejado: a Catedral de Santiago de Compostela na Plaza de Obradoiro.

Considerando a importância histórica, cultural e religiosa deste percurso, vamos conhecer mais sobre esta que é a maior romaria da Europa!

 

 

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A origem de tudo

A tradição cristã conta que São Tiago, apóstolo de Jesus, teria se deslocado da Palestina e viajado para territórios distantes com o intuito de espalhar a mensagem de Cristo ao redor do mundo. Em suas andanças, acabou por se estabelecer na região que hoje corresponde à Galicia e teria permanecido lá por muitos anos. Contudo, ao retornar para sua terra natal por volta de 44 d.C., foi preso e sentenciado à morte pelo então rei Herodes.

É após seu falecimento que realmente surgiram as raízes daquilo que posteriormente inspiraria o Caminho de Santiago. Isto se deve porque dois dos seus seguidores, Teodoro e Atanasio, conseguiram recuperar os restos mortais do santo e fugir para longe. Novamente, o destino seria a Galicia.

Caminho de Santiago: história e curiosidades

Max Kukurudziak via Unsplash

Apesar do exitoso regresso, a lenda conta que os dois discípulos ainda passariam por uma série de infortúnios e provações, já que não eram bem-vindos pela rainha da região. Eventualmente, após a ocorrência de um milagre a governante não somente permitiu que São Tiago pudesse ser devidamente enterrado como também teria se convertido ao cristianismo.

Por fim, a lenda diz que o jazigo teria sido mantido por Teodoro e Atanasio os quais, ao morrerem, também teriam sido enterrado juntos a São Tiago. Contudo, após alguns anos o lugar teria sido inexplicavelmente esquecido e permanecido assim por séculos.

 

O túmulo redescoberto e a primeira rota

Foi somente no século IX, em plena Idade Média, que o lugar de descanso final de São Tiago veio a ser redescoberto. O responsável por esta façanha teria sido um eremita chamado Pelayo que de sua gruta observava o céu todas as noites e a partir de um determinado momento começou a notar um curioso acúmulo de estrelas que pareciam indicar um ponto específico no solo.

Caminho de Santiago: história e curiosidades

Simon Burchell via Wikimedia Commons

Intrigado sobre o que aquilo poderia significar, Pelayo teria contatado o bispo local, Teodomiro, e insistido para que eles verificassem o caso pessoalmente. Depois de muito pedir, Pelayo convenceu Teodomiro e ambos se dirigiram à área em questão onde, para surpresa dos dois, encontraram três túmulos. Naquele instante, o bispo compreendeu que se tratava da tumba de São Tiago e seus discípulos.

Com isso, a notícia se espalhou rapidamente até alcançar os ouvidos de Alfonso II, o Casto, monarca do Reino das Astúrias. Tendo em vista que tratava-se de uma descoberta sem precedentes, conta-se que o próprio rei teria se deslocado até a Galicia para testemunhar este achado e, ao confirmar sua veracidade, não somente teria se tornado o primeiro peregrino de Compostela como também mandado erguer um monumento digno para o santo, o qual mais tarde se tornaria a Catedral de Santiago de Compostela.

 

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Todos os caminhos levam a Santiago

Com o passar do tempo, a peregrinação até Santiago se popularizou a ponto de atrair a atenção dos espanhóis e europeus em geral. Desta forma, ao longo da Idade Média diversos caminhos alternativos foram sendo criados a partir de diferentes localizações.

Caminho de Santiago: história e curiosidades

José Antonio Gil Martínez via Wikimedia Commons

Atualmente, cinco rotas são consideradas Patrimônio Mundial pela UNESCO graças a uma extensão feita em 2015 do reconhecimento original outorgado em 1993. Os trajetos são:

  • Caminos del Norte: compreende quatro rotas sendo elas os Camino Costero, Camino Lebaniego, Camino Interior-Vasco e Camino Primitivo (percurso original realizado pelo rei Afonso II que parte da cidade asturiana de Oviedo)
  • Camino Francés: o primeiro caminho reconhecido em 1993 e também o mais utilizado. Estima-se que mais da metade dos peregrinos sigam por esta via

Tal qual em épocas passadas, o Caminho de Santiago ainda desfruta de uma grande apreciação entre os fiéis. Por isso, não é exagero dizer que ele está entre as maiores rotas de peregrinação do mundo. Para se ter uma ideia, 2019 foi o ano em que se registrou uma das maiores buscas contabilizando quase 350 mil peregrinos!

 

Caminho de Santiago: história e curiosidades

Forestman via Wikimedia Commons

Curiosidades e símbolos

Agora que você já conheceu um pouco da história e dos principais caminhos desta romaria tão importante, vamos apresentar algumas curiosidades surpreendentes e símbolos que todo aspirante a peregrino deve saber:

  • Códice Calixtino: primeiro “guia turístico” para Compostela datado do século XII e cuja possível autoria seria de um monge francês chamado Aimery Picaud. O manuscrito é bem completo e traz uma série de orientações para os viajantes do Camino Francés tal como informações sobre o trajeto, hospedarias nas proximidades, pontos de interesse, etc.
  • Conchas de vieira: um dos principais símbolos do Caminho de Santiago, inclusive estando presente no Códice Calixtino e em algumas sinalizações ao longo do percurso. Historicamente, membros do clero entregavam aos peregrinos uma concha de vieira tanto para comprovar a jornada que fizeram quanto para motivos práticos (como usar a concha para beber água ou pegar algum objeto, por exemplo). Apesar de não servir mais a estes propósitos, a concha ainda é um símbolo muito querido que permanece junto aos peregrinos
  • Flechas amarelas: em vários pontos do trajeto os viajantes podem observar flechas pintadas na cor amarela que se espalham pelos lugares mais inusitados. Sua função é bem intuitiva, já que serve para orientar os peregrinos em sua viagem até Santiago e foi inicialmente idealizada por um sacerdote, padre Elias Valiña, que fez estes sinais ao longo do Camino Francés durante a década de 1970
  • Credencial do Caminho: a Credencial do Peregrino é um documento semelhante a um passaporte que deve ser carimbado em estabelecimentos oficiais no decorrer do percurso para comprovar que a pessoa realmente fez o Caminho de Santiago. Os peregrinos que estejam viajando a pé devem carimbá-lo a cada 100km, enquanto aqueles que vão de bicicleta devem fazê-lo a cada 200km
  • Compostela: quando os viajantes finalmente chegam ao destino, eles podem se dirigir à Oficina del Peregrino de Santiago e, mediante a correta apresentação da credencial, solicitar a emissão de La Compostela, certificado oficial que atesta a realização da peregrinação

 

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Sabia que o Caminho de Santiago possuía uma história e simbologia tão profundas? Sem sombras de dúvidas, ele carrega uma influência não somente religiosa e espiritual, mas também histórico-cultural, haja vista que desde sua criação tem desempenhado um papel crucial de intercâmbio entre os diferentes povos que fazem este trajeto.

E você, ficou com vontade de participar também? Depois conta mais para gente! Esperamos que tenha gostado e nos vemos em um próximo post!

Esther Fuentes
Esther Fuentes