Os hispanofalantes: Espanha | Cultura Espanhola
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Os hispanofalantes: Espanha

Hoje a série de hispanofalantes finalmente chegou à Espanha, berço do segundo idioma mais falado do mundo em número de falantes nativos!

Por isso, ao longo deste mês vamos fazer uma programação especial sobre o país apresentando uma parte pouco conhecida da história espanhola bem como trazendo um novo olhar sobre um famoso personagem da literatura hispânica que influencia há gerações e muito além das páginas de seu livro.

Para hoje, nos focaremos nas principais informações do país, documentos para viagem e algumas curiosidades bem interessantes sobre seus habitantes e sua cultura. Vamos lá?

 

Sugestão: Os hispanofalantes: Equador

 

Informações gerais

Os hispanofalantes: Espanha

Tim Wehrmann via Unsplash

Nome oficial: Reino de Espanha

Capital: Madri

Área: 505.370 km²

Tipo de governo: Monarquia constitucional parlamentarista

População: 47.222.613 habitantes (estimativa 2023)

Maiores cidades: 1) Madri; 2) Barcelona; 3) Valência; 4) Sevilha; 5) Zaragoza

PIB total: $1,922 trilhões (estimativa 2022)

PIB per capita: $40.200 (estimativa 2022)

Principais produtos agrícolas: cevada, leite, trigo, azeitonas, uvas e tomates

Principais indústrias: têxtil e vestuário, alimentos e bebidas, metais e metais manufaturados, químicos e construção naval

Moeda: euro

Documentos de entrada para brasileiros: para turistas brasileiros que queiram viajar à Espanha, é necessário apresentar os seguintes documentos:

  • Passaporte válido por no mínimo 3 meses contando após a data prevista de saída e deve ter sido emitido em um intervalo máximo de 10 anos
  • Bilhetes de ida e volta (ou saída da Espanha para outro país da União Europeia)
  • Confirmação de reserva em hotel ou carta convite caso fique em casa de um particular
  • Comprovante de renda suficiente para toda a estadia no país

 

Aliás, nós já fizemos um texto especialmente para tratar dos documentos que os cidadãos brasileiros precisam apresentar às autoridades espanholas em diferentes situações seja turismo de curta ou longa permanência, estudos, trabalho, etc. Para mais informações, clique no link abaixo!

 

Conteúdo relacionado: Quais documentos são necessários para entrar na Espanha?

 

Breve história do país

A história espanhola é muito antiga remontando há vários séculos antes de Cristo, o que impossibilita cobrir tudo sobre o país neste post. Contudo, um fato importante é que desde sempre ele se caracterizou como um verdadeiro receptáculo multicultural, recebendo povos e culturas de todos os cantos que juntos contribuíram para formar o que hoje se entende por cultura da Espanha. Tal fusão se materializa desde o período antigo quando o território se tornou lar de fenícios e romanos que dividiam o espaço com povos iberos e celtas, entre outros.

Aliás, você sabia que o nome Espanha deriva de “Hispania”, nome dado pelos romanos àquela parte do mundo? Eles, por sua vez, pegaram o termo emprestado do fenício “i-spn-ya”. Não há consenso a respeito do verdadeiro significado da palavra, sendo que as interpretações variam desde “terra abundante de coelhos” até “terra onde se forjam metais”.

De qualquer modo, como se provará ao longo de sua história, as convivências multiculturais serão responsáveis por grandes avanços políticos, sociais, econômicos e tecnológicos para o território espanhol, embora, infelizmente, não conseguirão evitar episódios de violência e intolerância.

Os hispanofalantes: Espanha

Akshay Nanavati via Unsplash

Outro momento significativo é o período de Al-Andalus quando os muçulmanos provenientes do Oriente Médio e Norte da África rumaram à Península Ibérica e tomaram para si quase a totalidade daquelas terras e ali permaneceram de 711 a 1492. De fato, a influência moura pode ser testemunhada até hoje tanto por suas impressionantes construções, cujos principais exemplares estão na Andaluzia, quanto pelo próprio castelhano que carrega palavras com raízes do árabe (ex. aceite, algodón e tabaco).

A resistência cristã, por sua vez, se concentrou primeiramente na região das Astúrias sob comando de Don Pelayo e conseguiu pouco a pouco expandir sua área de influência para o resto da península à medida que mais e mais tropas cristãs recuperavam as terras dos muçulmanos. Por fim, já sob as ordens dos reinos de Castela e Leão, a cidade de Granada, último reduto de Al-Andalus, foi tomada em 1492.

Sendo uma das superpotências da época ao lado de Portugal, neste mesmo ano a Espanha fez um feito que mudaria para sempre a História quando Cristóvão Colombo chegou às Américas e o continente europeu se deu conta da existência do Novo Mundo, o qual já era habitado há séculos pelos povos ameríndios.

Adotando um esquema de dominação, a Espanha expandiu seu poder de norte a sul do continente americano, criando colônias de exploração que ficaram por séculos sob seu controle. Eventualmente, movimentos separatistas ganharam força principalmente quando as disputas internas na Europa enfraqueceram o poder dos governantes espanhóis, o que resultou, entre outras consequências, na independência dos países latino-americanos.

Após este período e já partindo para o século XX, a Espanha passou por várias crises políticas e econômicas que geraram desde uma alta taxa de imigrantes espanhóis ao redor do mundo até conflitos armados como a Guerra Civil Espanhola. Este confronto durou de 1936 a 1939, opondo republicanos e nacionalistas e terminando com a vitória e posterior ditadura do general Francisco Franco que governou o país de 1939 até sua morte em 1975.

Com a promulgação da nova Constituição em 1978, a Espanha retornou para o caminho da democracia, sedimentando-o ao entrar para a Comunidade Econômica Europeia (futura União Europeia) em 1986.

Atualmente, o país é uma monarquia constitucional parlamentarista cujo rei é Felipe VI desde 2014, enquanto o cargo de presidente do governo é ocupado desde 2018 por Pedro Sánchez.

 

Curiosidade 1: mapa linguístico da Espanha

Por uma questão de facilidade ou de hábito, é comum que o idioma oficial da Espanha seja chamado simplesmente de “espanhol”, o qual também é falado em grande parte da América Latina e em outras partes do mundo.

Contudo, o termo mais correto a ser usado é “castelhano”, língua proveniente da região espanhola de Castela e que não é historicamente nativa de outras partes do país. De fato, uma das primeiras características que os estudantes ou viajantes se deparam quando entram em contato com a cultura espanhola é que o seu mapa linguístico é muito mais abrangente do que se poderia considerar a primeiro momento.

Os hispanofalantes: Espanha

Sebastian Pichler via Unsplash

Isto acontece porque, como visto anteriormente, a Espanha recebeu diferentes povos ao longo de sua história que influenciaram e moldaram variados aspectos culturais, entre eles, a comunicação. Consequentemente, devido ao seu caráter multiétnico, as comunidades autônomas espanholas são lar de diversos idiomas, os quais, apesar de estarem historicamente ligados ao castelhano, de jeito nenhum perderam sua identidade ou importância.

Desde a promulgação da atual Constituição Espanhola de 1978, é reconhecido que a variedade linguística do país se figura como um patrimônio cultural a ser preservado. Portanto, apesar de o castelhano ainda se manter como o idioma oficial do país, outros também gozam do status de língua cooficial nas respectivas comunidades autônomas em que se originaram como é o caso do catalão, aranês, basco (euskera), valenciano e galego.

Vale ainda mencionar que há na Espanha outras línguas reconhecidas, mas que não possuem caráter oficial e que se distribuem por diferentes partes do território nacional a depender da sua relação com determinada localidade ou povo. Fazem parte deste grupo o asturiano, andaluz, aragonês, leonês, canário, extremeño, murciano e romaní (este último falado pelos ciganos).

Embora não seja muito conhecido, também é interessante notar a existência do judeoespañol (também chamado de ladino), um idioma falado pelos judeus sefarditas que foram expulsos da Espanha no século XV ao recusarem se converter forçadamente para o cristianismo. Sua presença nos dias atuais está mais limitada às regiões dos Bálcãs, Turquia e ao Egito. Contudo, até hoje é possível perceber alguns traços de semelhança entre ele e o castelhano.

 

Curiosidade 2: siesta e longevidade

A sesta, pausa breve para dormir após o almoço, é uma prática pouco usual no Brasil com exceção de algumas cidades pequenas ao passo que associamos muito mais com a Espanha.

Entretanto, curiosamente a siesta não tem origem espanhola e tampouco é realizada pela maioria da sua população. De acordo com historiadores, a palavra siesta deriva do latim e refere-se à sexta hora do dia para os antigos romanos que reservavam mais ou menos o período entre as 13h e 15h para descansar. Do Império Romano, o hábito da siesta se espalhou pelo continente europeu até chegar na Espanha.

Optar pela sonequinha vespertina, no entanto, só se tornaria mais difundida no país após a Guerra Civil Espanhola, já que naquela época muitas pessoas precisavam trabalhar em dois empregos para garantir o sustento de suas famílias. Assim, os espanhóis, principalmente das zonas rurais, valiam-se deste recurso entre o intervalo de uma ocupação e outra.

Os hispanofalantes: Espanha

Filipp Romanovski via Unsplash

Com o retorno do crescimento econômico e o êxodo para as grandes cidades, o hábito da siesta caiu em desuso progressivamente, salvo por algumas localidades menores e um certo número de adeptos que somam aproximadamente 18% da população segundo pesquisa feita em 2017. Por outro lado, em torno de 60% dos espanhóis dizem que não tem esse costume.

Apesar destas cifras, estudos na área médica apontam que tirar umas horas da tarde para fazer uma breve pausa pode trazer vários benefícios para a saúde a exemplo da redução do estresse, aumento da criatividade e produtividade bem como o fortalecimento do sistema imunológico.

De fato, alguns pesquisadores apontam que a siesta dos espanhóis pode ser um item crucial de uma longa lista de fatores que expliquem outro dado curioso sobre o país: a alta longevidade dos seus cidadãos. Assim como apontado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2021, a Espanha ocupava o 5º lugar entre os países com mais expectativa de vida do bloco (média de 83,3 anos) e lidera o ranking entre os membros da União Europeia.

Não deixa de ser um fato intrigante tendo em vista que o consumo de álcool e tabaco, embora tenha diminuído consideravelmente ao longo das décadas, ainda seja comum. A explicação para alguns pesquisadores é que, além da siesta, o estilo de vida espanhol que combina uma saudável dieta mediterrânea com passeios e caminhadas frequentes esteja entre as principais justificativas para esta façanha.

 

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Personalidade ilustre: Miguel de Cervantes

Miguel de Cervantes Saavedra é definitivamente o espanhol mais conhecido e reverenciado em todo mundo. Acredita-se que nasceu em Alcalá de Henares no dia 29 de setembro de 1547, tendo se destacado como romancista, dramaturgo e poeta de diversas obras, embora seu magnum opus seja, sem dúvidas, “Dom Quixote de La Mancha”.

Filho do cirurgião Rodrigo Cervantes e de Leonor de Cortinas, Miguel de Cervantes passou alguns anos de sua juventude como fugitivo na Itália, após ter sido acusado de ferir um homem em um duelo e sua prisão ter sido decretada (até hoje, não há comprovações se o “Miguel de Cervantes” da sentença se tratava realmente do escritor ou de um homônimo).

Em 1575, enquanto estava retornando da Itália para a Espanha, o navio onde Cervantes e seu irmão estavam foi atacado por uma flotilha do Império Turco-Otomano, fazendo com que o autor fosse vendido como escravo para Dali Mami em Argel. Permaneceu aprisionado por cinco anos, fato esse que muitos estudiosos apontam como um forte influenciador para o desenvolvimento do seu estilo literário em comparação aos seus escritos anteriores.

Os hispanofalantes: Espanha

Wikimedia Commons (domínio público)

Ao recuperar sua liberdade em 1580, retornou à Espanha e depois foi à Portugal no ano seguinte. Acredita-se que foi nesse período entre 1581 e 1583 que Cervantes tenha elaborado La Galatea, sua primeira obra relevante literariamente. Ele ainda realizaria outras andanças pela Península Ibérica, permanecendo um tempo em Sevilha e depois em Valladolid.

Foi somente em 1605, pouco mais de uma década antes de sua morte, que Cervantes publicou a primeira parte de sua obra mais famosa: “O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha” em que retrata as aventuras do bondoso e atrapalhado Dom Quixote em sua busca por se tornar um verdadeiro cavaleiro. Já na época de publicação, o livro alcançou grande popularidade, sendo mais tarde reconhecido por especialistas da literatura como a obra que marcou o início do romance moderno europeu.

Miguel de Cervantes morreu em 22 de abril de 1616 aos 68 anos, possivelmente por consequência de uma diabetes. Apesar de sua morte, o escritor transcendeu a barreira do tempo e se tornou um ícone do idioma castelhano ao ponto de este último ser referenciado como “A língua de Cervantes”.

 

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Esperamos que tenha gostado do post de hoje. Nos vemos na próxima semana!

 

¡Hasta luego!

Esther Fuentes
Esther Fuentes