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Por que o espanhol tem sinais de cabeça pra baixo?

Talvez esta seja uma das imagens mais características do espanhol entre os estrangeiros e de fato o idioma se destaca entre os demais por ser o único da atualidade a usar sinais de exclamação e interrogação tanto no início quanto no final das frases.

Porém, por que será que o espanhol se comporta assim? Já se perguntou sobre isso? Se por acaso esta dúvida também rondou sua cabeça em algum momento durante seus estudos, então hoje é dia de matar essa curiosidade com o nosso post da semana!

 

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Quando começamos a usar “!” e “?”

Antes de entendermos como o espanhol passou a adotar os sinais de interrogação e exclamação invertidos, vale a pena voltarmos um pouquinho na história para saber como eles surgiram nos finais das sentenças para começo de conversa.

De acordo com alguns especialistas, o ponto de exclamação seria um produto concebido por humanistas italianos (Humanismo foi um movimento artístico e intelectual que surgiu na transição da Idade Média para a Moderna). Como neste período já existia a palavra latina “io” que servia para expressar admiração e era colocada ao final das frases, estes intelectuais decidiram simplificar a comunicação escrevendo somente o “i” em cima do “o”, formando assim o nosso conhecido “!”.

Por que o espanhol tem sinais de cabeça pra baixo?

Leonardo da Vinci (domínio público) via Wikimedia Commons

Por outro lado, os estudos mais recentes para o caso do ponto de interrogação indicam que este sinal se desenvolveu na época do Império Carolíngio, uma dinastia de origem francesa que dominou a Europa medieval entre os séculos VIII e X. Conta-se que Alcuíno de York, um monge erudito com extenso conhecimento em matemática e escrita, foi convidado a fazer parte da corte de Carlos Magno. Não estando satisfeito com as limitadas pontuações que até então havia, Alcuíno criou a semente do que mais tarde se tornaria o ponto de interrogação. Inicialmente com um formato semelhante a um raio sobre um ponto final, o sinal evoluiu para o atual “?” apenas a partir do século XVI com a criação da prensa e graças, novamente, ao trabalho de humanistas italianos.

 

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Só no fim não é o bastante

Como ocorreu ao longo de toda a Europa, os sinais “!” e “?” foram igualmente incorporados pelas línguas da Península Ibérica, incluindo o castelhano e, assim como em outros lugares, permaneceram sendo utilizados só para demarcar o final das frases.

A situação se manteve desta forma até a metade do século XVIII quando em 1754 a Real Academia Española (RAE) apresentou uma proposta revolucionária na sua segunda edição de “Ortografía”, pois, dali em diante, perguntas também deveriam conter um ponto de interrogação que seria escrito no início da frase e colocado no sentido inverso.

A justificativa para a mudança era que um ponto de interrogação ao final das frases não era suficiente para perguntas longas e, portanto, seria importante que o leitor fosse informado deste fato com mais antecedência. E por um tempo a regra foi realmente essa: o “¿” estava reservado apenas para orações que fossem muito longas com o intuito de guiar melhor a leitura.

Por que o espanhol tem sinais de cabeça pra baixo?

Gabriella Clare Marino via Unsplash

No entanto, o conceito de curto e longo, especialmente em se tratando de perguntas, começou a se mostrar como algo demasiadamente subjetivo. Deste modo e com o intuito de padronizar a nova pontuação com mais eficiência, em 1870 a RAE estipulou a regra que permanece até os dias atuais. Isto é, não importa o tamanho da pergunta, sendo ela curta ou longa será necessário conter um sinal de interrogação no seu início e fim.

E quanto ao sinal de exclamação? A forma como é utilizada hoje em dia chegou décadas depois à norma culta da língua, sendo reconhecida como necessária tanto para começar quanto finalizar frases somente em 1884. Outra questão a notar é que antigamente este sinal era chamado de “signo de admiración” e não “exclamación” como se fala atualmente. Esta última mudança foi ainda mais tardia, acontecendo tão só em 2014 quando a RAE a rebatizou por entender que, ao contrário de admiração, a exclamação agrega uma variedade maior de sentimentos, desde alegria e animação até raiva e assombro.

 

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A língua como um organismo vivo

A análise de como os sinais invertidos foram introduzidos no idioma espanhol prova de maneira irrefutável que a língua está sempre em mudança, acompanhando a evolução, novidades e necessidades da sociedade.

Por que o espanhol tem sinais de cabeça pra baixo?

Jon Tyson via Unsplash

Portanto, não é de se admirar que ainda hoje testemunhemos a ascensão de novas maneiras de comunicação. Especificamente com o advento da era da Internet, isto se tornou muito claro devido a uma busca crescente por mensagens cada vez mais práticas, o que, consequentemente, gera um aumento de abreviações e omissões de certos elementos linguísticos como é o caso das pontuações.

No que se refere ao espanhol, isso implica muitas vezes na escolha de não usar os sinais para os inícios de pergunta e exclamação, algo visto com certa preocupação por uma parcela da população. Por outro lado, sua exclusividade em comparação aos demais idiomas do mundo fez com que os sinais invertidos alçassem um nível muito maior de importância do que meros recursos de auxílio aos leitores, mas sim se transformassem em símbolos profundamente enraizados na identidade cultural dos países hispanofalantes e seus cidadãos.

Sendo assim, apesar das alterações naturalmente ocorridas nos sistemas de comunicação, os sinais “¿” e “¡” ainda ocupam um posto de relevância não somente na norma culta, mas também nos corações de muitos que desejam preservá-lo e celebrá-lo como um traço inimitável da Hispanidade.

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Esperamos que tenha gostado do post desta semana e sanado sua dúvida a respeito dos sinais de interrogação e exclamação invertidos no espanhol. Por acaso você imaginava que “simples” pontuações continham dentro de si tanta história?

 

Bem, agora você já sabe porque elas são assim e também a forma correta de utilizá-las. Então, partiu praticá-las, ¿verdad?

 

Por que o espanhol tem sinais de cabeça pra baixo?

Laurin Steffens via Unsplash

 

¡Abrazos y hasta la próxima semana!

Esther Fuentes
Esther Fuentes