Conheça a magia da zambra mora | Cultura Espanhola
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Conheça a magia da zambra mora

É de praxe que quando viajamos a um lugar novo buscamos conhecer pontos turísticos interessantes e ao mesmo tempo absorver um pouquinho da cultura local principalmente através de apresentações artísticas, não é mesmo?

Quando falamos sobre dança, nenhum outro ritmo espanhol é mais famoso mundialmente do que o belo, envolvente e poderoso flamenco. Nascido na Andaluzia a partir da contribuição dos diferentes povos que habitavam a região, o flamenco atrai a curiosidade de milhares de turistas que se deslumbram pela sua arte e variedade, já que ele se subdivide em muitos estilos comportando desde bailes alegres e agitados até outros mais sérios e lentos.

Dentre as suas variações, uma recebe especial atenção por sua história e características únicas: a zambra mora, também conhecida como zambra gitana ou simplesmente zambra.

Este bailado, típico da cidade de Granada, bebeu da fonte dos conhecimentos mouros e ciganos, sofreu uma longa proibição estatal, resistiu nos refúgios de grutas e depois foi capaz de ressurgir com todo esplendor que lhe é devido para se tornar uma das atrações locais mais concorridas.

Ficou curioso para saber como tudo isso aconteceu? Então siga conosco!

 

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As raízes da zambra

Mas afinal, de onde vem a zambra exatamente? Para além de apontar a cidade de Granada como seu berço, a resposta para esta pergunta não é tão fácil de ser respondida e tampouco existe um consenso entre os estudiosos tendo em conta o alto intercâmbio cultural presente neste município.

Conheça a magia da zambra mora

Matteo Bordi via Unsplash

Porém, a teoria mais aceita é de que a zambra derivou-se das danças mouriscas especialmente aquelas reservadas para as cerimônias de casamento.

Com a repressão aos mouros durante e após o período da Reconquista, eles se abrigaram junto aos ciganos, grupo nômade proveniente do território indiano, no bairro granadino de Sacromonte (conhecido até hoje como o bairro cigano) e a partir daí ocorreu a troca cultural que permitiu a criação da zambra.

Assim como os mouros, os ciganos também adotaram a zambra nas suas celebrações de casamento e elas, por sua vez, ainda se dividem em três tipos de danças: alboreá, cachucha e mosca.

 

Perseguição e clandestinidade

Entretanto, a zambra passaria por maus bocados a partir do século XVI devido à Inquisição espanhola que a via como uma dança indecente. O motivo para esta acusação era tanto por causa dos movimentos performados quanto pela vestimenta já que as mulheres costumavam dançar com uma blusa amarrada com um nó logo abaixo dos seios, além de uma saia longa de pregas e pés descalços.

Assim, por ser considerada um baile que incentivaria o pecado da luxúria, a zambra foi oficialmente proibida. Apesar disto, os ciganos de Granada souberam contornar a situação e continuaram praticando-a mesmo na clandestinidade. Desta forma, conseguiram manter viva esta tradição dentro das grutas (cuevas) de Sacromonte e longe da vista dos inquisidores.

 

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Retorno e reconhecimento

Foi somente no século XIX que a marginalização da zambra começaria a findar primeiramente graças aos escritores românticos que, ao visitar Granada, contavam em suas obras sobre a beleza que era assistir aos gitanos dançando flamenco nas grutas de Sacromonte.

Como uma consequência natural, a mensagem se espalhou e despertou o interesse de viajantes seja da Espanha ou de outras partes do mundo que queriam ver de perto os aclamados bailes gitanos.

Conheça a magia da zambra mora

V2F via Unsplash

No século XX, a popularidade do flamenco e da própria zambra se tornou ainda maior pela influência de membros da Geração de 27 (movimento literário espanhol de 1923 a 1927) como Federico García Lorca e Manuel de Falla que organizavam concursos de flamenco. Estes eventos acabaram por se provar fundamentais para difundir a cultura flamenca e torná-la o fenômeno que conhecemos hoje em dia.

Especificamente em relação à zambra um subgênero chamado zambra caracolera se tornou muito admirada entre as décadas de 1950 e 1960. Esta variante despontou graças à contribuição artística do cantor de flamenco Manolo Caracol que atribuiu algumas características particulares à zambra original em seus espetáculos.

Desde 2019, as autoridades de Granada iniciaram os procedimentos burocráticos junto à UNESCO para que a zambra seja reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Vale lembrar que o flamenco como um todo já faz parte desta lista desde 2010.

Conheça a magia da zambra mora

Yair Haklai via Wikimedia Commons

Zambra: ontem e hoje

Impressionante como uma dança pode ter uma trajetória tão cheia de desdobramentos e reviravoltas, não concorda?

Hoje em dia, a zambra mudou bastante de sua forma original, já que anteriormente se dançava com os pés descalços e hoje em dia é mais comum o uso dos típicos sapatos de flamenco. Contudo, é possível ainda encontrar ambas as versões da dança. Nos vídeos abaixo, você pode conferir melhor:

 

Zambra mora: modo tradicional com pés descalços

 

Zambra mora: duas variações com sapato flamenco

 

Atração granadina

Como se pode perceber, atualmente a zambra está entre as atrações turísticas mais concorridas de Granada.

Se você se interessou por esta arte e deseja ver com seus próprios olhos, saiba que, assim como no passado, é possível admirar esta dança do povo gitano diretamente das grutas de Sacromonte.

Já imaginou que experiência sensacional?

A seguir estão listados alguns dos lugares mais procurados e que funcionam tanto como restaurante quanto palco de apresentações. Ao clicar nos links, você será redirecionado para seus sites onde poderá obter mais informações sobre o estabelecimento e o processo de reservas.

 

O que achou do post de hoje? Já tinha ouvido falar sobre a zambra? Esperamos que tenha gostado e se interessado por assistir a um destes belos espetáculos na sua próxima visita a Granada!

 

¡Un abrazo fuerte!

 

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Esther Fuentes
Esther Fuentes